EUA denunciam “retórica irresponsável” da Rússia sobre doutrina nuclear

Ucrânia

19 de nov. de 2024, 17:46 — Lusa/AO Online

“Esta é mais uma demonstração da retórica irresponsável que a Rússia tem demonstrado nos últimos dois anos”, disse um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional norte-americano à agência noticiosa francesa AFP.O Presidente russo, Vladimir Putin, assinou o decreto que alarga a possibilidade de utilização de armas nucleares, depois de os Estados Unidos terem autorizado Kiev a atacar solo russo com mísseis de longo alcance fornecidos por Washington.“Não ficámos surpreendidos” com o anúncio de que a Rússia iria adaptar a sua doutrina nuclear, sublinhou o porta-voz, considerando que Moscovo “tem vindo a assinalar a sua intenção de o fazer” há várias semanas.“Como não vimos qualquer alteração na postura nuclear da Rússia, não vemos qualquer razão para ajustar a nossa própria postura ou doutrina nuclear em resposta às declarações da Rússia”, acrescentou o porta-voz. Washington autorizou Kiev a utilizar os seus mísseis de longo alcance para atingir alvos na Rússia, que já foram utilizados num ataque noturno, o primeiro em mil dias de invasão russa.A Casa Branca afirmou que a decisão dos Estados Unidos foi tomada em resposta ao envio de tropas norte-coreanas para combaterem ao lado da Rússia contra a Ucrânia, que o porta-voz descreveu como uma “escalada significativa”.“Avisámos que os Estados Unidos iriam responder. Não vou entrar em pormenores sobre essa resposta hoje”, continuou.O “documento de planeamento estratégico” assinado pelo Presidente russo inclui a “posição oficial sobre a dissuasão nuclear”, “define os perigos e ameaças militares contra os quais se pode atuar com dissuasão nuclear” e garante uma resposta à “agressão” de “um potencial inimigo”, quer contra a Rússia, quer “contra os seus aliados”.Putin já havia advertido, no final de setembro, que a Rússia poderia usar armas nucleares no caso de um “lançamento massivo” de ataques aéreos contra o país e que qualquer ataque realizado por um país não nuclear, como a Ucrânia, mas apoiado por uma potência com armas atómicas, como os Estados Unidos, poderia ser considerado uma agressão “conjunta”, exigindo potencialmente o uso de armas nucleares.Dmitri Medvedev, ex-Presidente russo e atual vice-presidente do Conselho de Segurança do país, avisou ainda que “os ataques de mísseis da NATO contra a Rússia poderiam ser considerados um ataque do bloco” e assim desencadear a “Terceira Guerra Mundial”.Segundo Medvedev, a ratificação da nova doutrina nuclear russa abre a porta, em caso de ataque, à utilização de “armas de destruição maciça contra Kiev e as principais instalações da NATO, onde quer que se encontrem”.O ex-Presidente russo sublinhou ainda que estas armas são necessárias “no mundo moderno em que vivemos”.Medvedev alertou que o país “pode-se tornar o primeiro Estado a utilizar armas nucleares se sentir uma agressão contra si e vir a sua existência ameaçada”.