Estudo revela três novas variantes do vírus a circular em Portugal
Covid-19
23 de dez. de 2020, 13:20
— Lusa/AO Online
Uma das três variantes representa cerca de 70% dos genomas virais
analisados no estudo e que se caracteriza por “uma mutação muito
específica” que afeta as regiões onde se ligam os anticorpos.
“Verificámos agora neste estudo que fizemos em colaboração com o
Instituto Gulbenkian de Ciência [IGC] que as variantes que estão a
caracterizar esta segunda vaga em Portugal têm mutações que não estavam
descritas durante toda a primeira vaga”, adiantou João Paulo Gomes,
responsável pela unidade de bioinformática do Departamento de Doenças
Infecciosas do INSA. As três variantes
mais frequentes, cada uma delas reconhecida por uma alteração diferente
na proteína Spike (A222V, S477N ou S98F), foram detetadas em todas as
regiões de Portugal continental, sugerindo que terão sido as principais
corresponsáveis pela segunda vaga epidémica de SARS-CoV-2.
O coordenador do “Estudo da diversidade genética do novo coronavírus
SARS-CoV-2 (Covid-19) em Portugal” explicou que esta situação resulta de
“um processo de adaptação do vírus ao ser humano”.
“É normal que isso aconteça, passou um ano desde que o vírus apareceu a
infetar os seres humanos, portanto, é perfeitamente normal”, disse,
exemplificando que “a variante do Reino Unido que apareceu agora é mais
uma e não será a última, infelizmente”, e que gera preocupação.
Relativamente às mutações observadas no país, o investigador afirmou
que algumas “são bem interessantes”, mas não são exclusivas de Portugal,
sublinhando que “uma das mutações caracteriza uma variante que apareceu
em Espanha há alguns meses e que se disseminou pelo resto da Europa a
uma velocidade espantosa” e que foi observada agora em Portugal em 70%
das amostras analisadas no estudo.
Questionado se esta variante é mais letal e se pode explicar o aumento
de casos na segunda vaga, o investigador afirmou que “em termos clínicos
não há qualquer evidência de que exista uma maior severidade em termos
de doença”. O aumento de casos pode
justificar-se com a existência de variantes genéticas com maior
capacidade de transmissão, mas o investigador considera que o
comportamento social está na base do maior número casos na segunda vaga
em todo mundo. Segundo o
relatório do estudo, foram analisadas, até à data,
2.234 sequências do genoma do SARS-CoV-2, que provoca a Covid-19,
obtidas de amostras colhidas em 68 laboratórios, hospitais,
instituições, representando 199 concelhos de Portugal.
Nesta atualização do estudo foram inseridas mais 449 sequências do
genoma de SARS-CoV-2, colhidas desde o início de novembro em
19 laboratórios/hospitais colaboradores de todo o país, estando
representados 16 distritos do Continente e dos Açores, num total de 113
concelhos. Do total de vírus
sequenciados não se encontrou qualquer vírus com a combinação de
mutações apresentada pela variante atualmente a circular no Reino Unido
ou pelas variantes associadas a surtos de SARS-CoV-2 em explorações de
martas na Dinamarca. “Curiosamente, não
foi detetada a variante genética que marcou a primeira vaga da epidemia
de covid-19 em Portugal (com a mutação na Spike D839Y) nos genomas
analisados da segunda vaga. Isto sugere que medidas de saúde pública
implementadas terão mitigado a continuação da sua transmissão”, sublinha
o documento.