Estudo revela aumento de casos de fome em pessoas assistidas por instituições
29 de nov. de 2017, 15:49
— Lusa/AO online
Realizado pelo Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da
Universidade Católica, em parceria com o Banco Alimentar Contra a Fome e
a Entrajuda, o estudo, hoje divulgado, faz parte de um projeto iniciado
em 2010, que tem sido repetido de dois em dois anos a uma amostra de
instituições, permitindo acompanhar a evolução de famílias que assistem.
Segundo o estudo "Utentes de instituições de solidariedade social -
Uma abordagem à Pobreza nesta população", são os inquiridos com idades
entre os 41 e os 65 anos que mais referiram ter estado algum dia inteiro
sem comer (37%).A
percentagem de inquiridos que refere que “às vezes” não teve dinheiro
para ter comida até ao fim do mês também tem vindo a aumentar ao longo
dos quatro anos atingindo 46% em 2016.“Regista-se
assim, em 2016, um ligeiro agravamento das carências alimentares,
quando se comparam os resultados com os de 2014, não alcançando,
contudo, os valores mais negativos de 2012”, sublinha o estudo, que
apresenta os resultados de 1.466 inquéritos a famílias recolhidos em
finais de 2016.Mais
de metade (51%) das famílias recebe apoio de uma instituição há mais de
dois anos e 22% entre um e dois anos, sendo a alimentação o principal
apoio recebido (85%). O
estudo também analisou a situação das crianças portuguesas, que se
encontram “entre as mais vulneráveis da União Europeia”, sendo Portugal o
país com a oitava maior taxa de pobreza infantil (18,2%).De
acordo com o estudo, 42% das famílias têm crianças e adolescentes a
frequentar a escola, correspondendo a 614 famílias e 876 crianças. Destas
crianças e jovens, 36% já reprovaram pelo menos uma vez durante o seu
percurso escolar (21% uma vez e 10% duas vezes), uma taxa
significativamente superior à média nacional (13%), “valores
preocupantes pelas consequências que têm de perpetuação da pobreza”.“Outra
das consequências desta condição económica, muitas vezes aliada ao
insucesso escolar, diz respeito aos percursos escolares interrompidos,
frequentemente por vontade própria”, salienta o estudo. Dos
jovens a entrar na idade adulta (16-17 anos), 31% disseram que
pretendem ir trabalhar quando terminarem o secundário, 30% querem
prosseguir os estudos no ensino profissional e 22% desejam ir para a
universidade.Dez
por cento dos inquiridos referiram que os seus filhos são “muitas vezes
ou todos os dias discriminados pelos colegas devido à sua condição
económica” e 52% confessaram que “raramente” ou “nunca” conseguem
comprar o material necessário para as atividades escolares do menor a
seu cargo.Quase
metade dos inquiridos (46%) considera que a sua vida está pior do que
estava há cinco anos, apesar de este valor ter decrescido em relação a
2014 (55%). Quando olham o futuro, 41% consideram que a sua vida estará
igual e 34% esperam que estará melhorO
estudo conclui que, “embora em questões mais objetivas como é o caso do
rendimento, das carências alimentares, se verifique a manutenção da
situação, ou até um ligeiro agravamento, face às edições anteriores, em
dimensões mais subjetivas, parece haver uma ligeira melhoria das
condições de vida dos indivíduos ou pelo menos da perceção que estes têm
acerca daquelas”.