Estudo questiona fundamentos científicos da síndrome do bebé abanado
Hoje 11:02
— Lusa/AO Online
Os investigadores
defenderam uma revisão científica independente dos fundamentos do
diagnóstico de traumatismo craniano abusivo, também conhecido como
síndrome do bebé abanado (SBA), com critérios de diagnóstico
transparentes e suportados por evidências validadas, referiu a
Universidade de La Laguna, em Tenerife (Canárias), em comunicado.Num
artigo publicado na revista Forensic Science International: Synergy, os
investigadores avaliaram criticamente a investigação citada no
relatório técnico de 2025 da Academia Americana de Pediatria (AAP), o
guia global mais influente para o diagnóstico da SBA.Os
autores concluíram que a base de evidência utilizada para sustentar as
práticas de diagnóstico atuais para esta síndrome é muito mais frágil do
que se acreditava e que os estudos citados sofrem de graves falhas
metodológicas, como o raciocínio circular e o viés de incorporação.O
autor principal do estudo, Chris Brook, sublinhou que "o que é
apresentado como evidência científica para o diagnóstico da síndrome do
bebé abanado é uma reciclagem das mesmas suposições não comprovadas".O
especialista referiu como exemplo o recente caso em Espanha da
influenciadora Anabel Pantoja e do seu companheiro, David Rodríguez,
acusados de abanar a filha em Gran Canária enquanto a criança estava
hospitalizada.Embora este caso tenha sido
arquivado, vários casos de síndrome do bebé abanado nos últimos anos em
Espanha resultaram em penas de prisão para os pais.O estudo identificou múltiplos problemas na investigação habitualmente utilizada para fundamentar o diagnóstico clínico da SBA.Por
exemplo, 71% dos estudos citados pela Academia Americana de Pediatria
classificam os casos desta síndrome com base na opinião de especialistas
ou de equipas multidisciplinares, e não em critérios científicos
validados.Segundo os autores deste artigo,
nenhum estudo evita adequadamente o raciocínio circular: os mesmos
achados clínicos utilizados para diagnosticar a síndrome do bebé abanado
são utilizados para "validar" estes diagnósticos. Por
isso, os estudos baseados em confissões envolvem relatos feitos após
acusações médicas, introduzindo um forte viés de seleção, apontaram os
investigadores.Relativamente aos eventos
de abanão documentados por testemunhas oculares independentes ou por
vídeo, estes são raros, mas quando documentados, não produzem as lesões
atribuídas à síndrome do bebé abanado.Os
autores deste estudo alertaram que as suposições diagnósticas não
validadas sobre a síndrome do bebé abanado colocam as famílias e as
crianças em risco, incluindo a retirada de bebés de famílias não
abusivas e acusações injustas ou condenações criminais."A
suspeita de síndrome do bebé abanado é uma das acusações mais graves
que uma família pode enfrentar", sublinhou Brook, que defende que o
diagnóstico "deve ser baseado em provas sólidas, e atualmente não é".