Estudo conclui que vírus podem ser uma "grande ajuda" no tratamento do cancro
7 de set. de 2021, 17:25
— Lusa/AO online
Em
comunicado, o centro da Universidade do Porto refere que o estudo,
publicado na revista Frontiers in Immunology, mostrou que a necroptose
(mecanismo para eliminar vírus e outros agentes patogénicos) “ter-se-á
perdido em vários grupos de mamíferos em diferentes alturas”.A
investigação, financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, foi
liderada por investigadores do CIBIO-InBIO em colaboração com
investigadores do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e
Ambiental (CIIMAR) da Universidade do Porto e da Universidade Arizona
(Estados Unidos da América).A
necroptose é um dos mecanismos de resposta usado pelos organismos
hospedeiros quando uma célula humana ou animal é invadida por um vírus
ou outro agente patogénico. Este mecanismo contribui para a resposta
imunitária que mata as células infetadas.A
indução da necroptose é feita através da interação de duas proteínas – o
RIPK3 e a MILKL - que induzem a “rutura da membrana plasmática celular e
originam a morte celular”.Citada
no comunicado, Ana Pinto, primeira autora do artigo, esclarece que os
investigadores analisaram estas duas moléculas em dezenas de espécies de
mamíferos e que, “surpreendentemente”, encontraram “múltiplas mutações
que inativavam estes genes em várias linhagens de mamíferos”.“Curiosamente,
também foi encontrada uma forte correlação entre a interrupção da
necroptose em coelhos, lebres e cetáceos e a ausência do domínio
N-terminal em poxvírus [responsáveis pela inibição da necroptose] que
afetam mortalmente os coelhos, lebres e os cetáceos”, acrescenta o
centro.Também
Filipe Castro, investigador do CIIMAR, destaca a importância do artigo,
considerando-o como “o primeiro grande estudo evolutivo desta
importante via de defesa nos mamíferos”.“A
perda de necroptose várias vezes durante a evolução dos mamíferos
parece estar ligada à adaptação das espécies e sugere que esta via para
eliminar vírus não é necessária para os mecanismos de defesa
convencionais dos mamíferos”, acrescenta.Já
Pedro Esteves, líder do grupo de investigação Imunologia e doenças
emergentes (IMED) do CIBIO-InBIO, afirma que a perda destes genes em
quatro grupos distintos de mamíferos em diferentes momentos “sugere que
essa perda terá surgido como uma vantagem para estas espécies”.“Curiosamente,
nestas espécies existem fortes evidências que a existência de tumores
oncológicos seja muitíssimo rara. Por isso, é bastante tentador
relacionar a perda da via necrótica com uma maior infeção viral que
levasse a que estes vírus pudessem evitar cancros”, salienta o
investigador.Na
nota, o CIBIO-InBIO acrescenta ainda não deixar de ser curioso que “os
vírus possam ter sido, no passado, importantes no controlo de
desenvolvimento de cancros”.“A
utilização de vírus como possíveis agentes oncológicos no tratamento de
cancros tem vindo a ganhar força”, destaca o centro, acrescentando que
resultados laboratoriais mostram que o vírus mixoma que afeta
mortalmente os coelhos e lebres poderá futuramente “ser usado como
estratégia terapêutica de cancros em humanos”.