Estudo conclui que doença do sono não é apenas um distúrbio do sono
4 de jan. de 2018, 10:34
— Lusa/AO online
Segundo
o estudo, publicado na revista Nature Communications, a Tripanossomíase
Humana Africana, vulgarmente conhecida como doença do sono, "resulta de
um distúrbio do ritmo circadiano, causado pela aceleração dos relógios
biológicos que controlam diversas funções vitais, além do sono", refere
um comunicado do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes, em
Lisboa, instituição na qual Luísa Figueiredo é investigadora e
coordenadora do laboratório de Biologia do Parasitismo. A
doença do sono, que "ameaça dezenas de milhões de pessoas nos países da
África Subsariana", é transmitida pela picada da mosca tsé-tsé,
infetada com o parasita "Trypanosoma brucei". Para Luísa Figueiredo, citada no comunicado, a doença "não é especificamente um distúrbio do sono". O
trabalho de investigação, que resulta de uma colaboração entre o
laboratório da cientista portuguesa e o do investigador Joseph
Takahashi, da Universidade de Southwestern, nos Estados Unidos, revela
que o relógio biológico dos ratinhos infetados "avança mais rapidamente,
o que leva a uma inversão dos ciclos do sono e a uma anormalidade
hormonal e na temperatura corporal, semelhante ao que se observa em
doentes com a doença do sono".Face
aos resultados obtidos na experiência, será necessário saber em diante,
de acordo com Luísa Figueiredo, o que altera o ritmo do relógio
biológico na doença do sono. "Será
uma secreção do parasita ou uma molécula produzida pelo hospedeiro em
resposta à infeção? Conhecer a fonte irá ajudar-nos a ter um melhor
entendimento da doença e potencialmente bloquear os efeitos", afirmou,
citada pelo Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes. Para
a equipa científica, a possível descoberta dos genes do relógio
biológico afetados pela doença do sono poderá ajudar a desenvolver novos
tratamentos, alternativos aos atuais, à base de um composto de
arsénico, que são tóxicos e, por vezes, fatais para os doentes. A
investigação agora publicada segue um outro estudo, divulgado em março
de 2017, em que a dupla Luísa Figueiredo e Joseph Takahashi mostrou que o
parasita da doença do sono tem um relógio biológico, sendo mais
vulnerável à medicação durante a tarde.Após
entrar no corpo, o parasita "Trypanosoma brucei" causa sintomas como
ciclos de sono invertidos, febre, fraqueza muscular e comichão. O
parasita pode atacar o sistema nervoso central e, dependendo dos seus
subtipos, "matar o seu hospedeiro em poucos meses ou vários anos",
refere a nota do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes. No
novo estudo, os cientistas concluíram que os sintomas da doença podem
aparecer logo após a infeção, "mesmo antes de os parasitas se acumularem
em grande número no cérebro".