Estudo alerta para possíveis impactos de microplásticos na saúde humana
27 de mar. de 2023, 21:07
— Lusa
As conclusões resultam de um estudo realizado
por uma equipa de cientistas da Universidade de Ulm, na Alemanha, com
investigadores do Instituto de Investigação em Ciências do Mar, OKEANOS,
da Universidade dos Açores e das Universidades Acadia e McGill, do
Canadá. Neste estudo, os cientistas
examinaram e caraterizaram o microbioma gastrointestinal de duas
espécies de aves marinhas, o fulmar (Fulmarus glacialis) e o cagarro
(Calonectris borealis). Os microplásticos do trato gastrointestinal foram também analisados.Segundo
os investigadores, até agora, "apenas alguns estudos piloto sobre esta
problemática foram publicados" e os resultados, desenvolvidos em
condições laboratoriais, "são frequentemente baseados em altas
concentrações de microplásticos, não representativas das concentrações
observadas na natureza".Mas, neste novo
estudo, os investigadores mostram que "alterações no microbioma já
ocorrem na natureza", o que pode ter impactos "não apenas nos
indivíduos, a curto prazo, mas também consequências de longo prazo, para
várias espécies interligadas", porque "é esperada uma acumulação de
poluentes ao longo da cadeia alimentar". Os
investigadores do Instituto OKEANOS afirmam que as conclusões deste
estudo refletem "uma situação real, demonstrando efeitos da ingestão de
microplásticos em animais salvagens". "Sendo
que já foi demonstrado que os humanos também incorporam microplásticos,
estes estudos devem servir como sinal de alerta para os problemas de
saúde que poderão estar a ocorrer também em nós, humanos", apontam.
De acordo com o estudo, publicado na revista "Nature Ecology &
Evolution", quanto maior for a incidência de microplásticos no estômago e
no intestino das aves marinhas, maior será o impacto na diversidade do
seu microbioma (conjunto de microorganismos que vivem nos tecidos e
fluidos dos seres vivos). "A contaminação
por microplásticos é um problema ambiental de impacto global, pois essas
partículas (menores de 5 milímetros), têm uma ampla distribuição,
inclusive em áreas remotas, como a Antártica e o mar profundo", referem
os investigadores.De acordo com Yasmina
Rodríguez, coautora do estudo e investigadora no Instituto OKEANOS,
“apesar do aumento contínuo nas concentrações de plásticos no meio
marinho, até agora não tinha sido demonstrado que os microplásticos nas
concentrações ambientais atuais, alteravam as comunidades microbianas do
trato digestivo de animais selvagens". "Assim,
com esta descoberta, acreditamos que novas linhas de investigação
surgirão para aprofundar o conhecimento sobre os impactos que a ingestão
do nosso lixo causa na saúde dos animais“, assinala a investigadora,
citada em comunicado de imprensa.Os
cientistas consideraram o microbioma intestinal como "um indicador de
saúde, um componente chave da imunidade e bem-estar do animal
hospedeiro". "Além das consequências de
lesões mecânicas, patogénicos transportados com os microplásticos ou
distúrbios químicos causados pelos polímeros plásticos, podem também ser
considerados como causas potenciais", explica Christopher Pham, coautor
do estudo e investigador responsável pela equipa que estuda os impactos
lixo marinho, no Instituto OKEANOS.