Estratégia de combate ao abuso sexual de crianças nos Açores apoiou 182 vítimas em três anos
22 de mar. de 2019, 14:44
— Lusa/AO Online
Os dados foram hoje avançados em Ponta
Delgada, ilha de São Miguel, numa sessão pública de apresentação da
Estratégia Regional de Prevenção e Combate ao Abuso Sexual de Crianças e
Jovens (ERASCJ), que tem vindo a ser desenhada desde 2012, cuja
entidade coordenadora é a direção regional da Solidariedade Social do
Governo açoriano.Na sessão, Helena
Rodrigues, da direção regional da Solidariedade Social, adiantou que,
“entre 2015 e 2018, foram intervencionadas”, no âmbito da estratégia,
“182 vítimas e acompanhados 71 agressores”.Segundo
explicou, "a implementação prática da estratégia está a decorrer ilha a
ilha" e o objetivo é criar um modelo de intervenção no âmbito da
prevenção e combate ao abuso sexual de crianças e jovens assente num
trabalho "em rede" e "num percurso de articulação interventiva"."O
objetivo é uma estratégia concertada regional ao nível da prevenção
primária e que não pode estar dissociada das características do
fenómeno", sublinhou ainda, frisando a importância das instituições que
trabalham com crianças e jovens na deteção precoce de situações de abuso
sexual. Nesse sentido, esta estratégia
envolve ainda o Instituto de Segurança Social dos Açores, direção
regional da Saúde e direção geral de Reinserção e Serviços Prisionais,
além do Ministério Público, autoridades policiais, hospitais e
associações que lidam com a problemática.Presente
na sessão, o coordenador da Polícia Judiciaria (PJ) nos Açores, João
Oliveira, adiantou que tem havido nos últimos anos alguma flutuação dos
números de casos de abuso sexual de crianças e jovens no arquipélago
açoriano."Até 2013, poderemos dizer que
houve um aumento muito significativo, quer do número de inquéritos, quer
do número de detenções, de investigações concluídas e concluídas com
êxito, ou seja, inquéritos que saíram com proposta de despacho
acusatório. Mas, nestes últimos cinco anos, tem havido uma tendência de
alguma estabilização", explicou aos jornalistas.Questionado
sobre qual a média anual de casos de abuso sexual de crianças e jovens
nos Açores, o coordenador da PJ no arquipélago referiu que serão "umas
dezenas de investigações que foram abertas em cada um dos anos".Quanto
ao perfil do abusador nos Açores, João Oliveira, referiu que "é um
perfil heterogéneo”, mas com “particular incidência quer no seio da
família, quer em contextos de proximidade”.“Ou seja, por regra, tendencialmente, o abusador sexual de criança é alguém que tem alguma proximidade com a vítima", afirmou.João
Oliveira admitiu ainda que há "um conjunto de casos, com alguma
expressão”, que “não foram reportados às autoridades”, logo, os seus
“autores ficaram impunes"."Tenhamos
presente uma dimensão deste problema que é uma dimensão de proximidade,
nalguns casos mesmo de contextos familiares, em que os códigos de
silêncio prevalecem e induzem efetivamente que a participação não seja
feita às autoridades", apontou.A
secretária regional da Solidariedade Social, Andreia Cardoso, que
presidiu à sessão, sublinhou o “forte investimento” do executivo
açoriano nas valências para a infância e juventude, mas salientou que
“há situações que não dependem diretamente destes investimentos”, pelo
que alertou que “é preciso estar atuante e vigilante” sobre os perigos a
que as crianças e jovens podem estar sujeitos.Os
mecanismos desta estratégia regional passam, entre outros aspetos, pela
prevenção e formação dos profissionais com intervenção direta na
problemática, definição de um modelo concertado ao nível da prevenção na
região, com foco também nas famílias.A
criação de modelos interventivos de aconselhamento e reabilitação tanto
de agressores como de crianças e jovens vítimas de abusos sexuais sob
suporte científico permanente, é outra das prioridades interventivas
desta estratégia.