Estados do Conselho da Europa querem declaração política sobre direitos humanos e migrantes
Migrações
10 de dez. de 2025, 13:20
— Lusa/AO Online
O
apelo foi feito durante uma conferência informal, realizada por
iniciativa do secretário-geral do Conselho da Europa, Alain Berset, num
contexto de divergências quanto ao papel da CEDH no combate à imigração
ilegal.Em maio passado, nove
Estados-membros (Áustria, Bélgica, Dinamarca, Estónia, Itália, Letónia,
Lituânia, Polónia e República Checa — todos também membros da União
Europeia) consideraram “necessário iniciar uma discussão sobre a forma
como as convenções internacionais abordam os desafios atuais”,
nomeadamente das migrações, numa carta aberta publicada pelo Governo
italiano.Quinze outros Estados
juntaram-se, entretanto, ao apelo, segundo avançou a agência de notícias
francesa AFP, citando fontes diplomáticas, o que eleva para 24 o número
de países que querem questionar a CEDH, ou seja, mais de metade dos 46
Estados-membros.Os países em causa
consideraram, entre outras coisas, que o Tribunal Europeu dos Direitos
Humanos levou, “em certos casos, a CEDH muito para além das suas
intenções originais”, particularmente no que diz respeito à proteção dos
migrantes que entram na União Europeia de forma irregular.O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, e a sua
homóloga dinamarquesa, Mette Frederiksen, apelaram aos europeus para que
reformem a CEDH de forma a combater a imigração ilegal.Num
artigo de opinião conjunto publicado no jornal The Guardian, os dois
líderes defenderam uma “modernização da interpretação” da convenção,
afirmando que deve “refletir os desafios do século XXI”.
No Reino Unido, a CEDH tem sido alvo de fortes críticas, sendo acusada
de dificultar os esforços do Governo no combate à imigração ilegal, em
particular à chegada de migrantes através do Canal da Mancha.Os
Conservadores e o partido anti-imigração Reform UK defendem a retirada
total da CEDH, enquanto o Governo trabalhista de Keir Starmer anunciou,
no mês passado, a sua intenção de reduzir o âmbito da CEDH em relação à
lei do asilo e de negociar reformas com os restantes países signatários.Na
sua intervenção de hoje, Alain Berset defendeu a convenção como “a
salvaguarda final dos direitos e liberdades individuais” do continente,
sublinhando que o tratado é “um pilar da segurança democrática”.Os
ministros presentes na conferência reafirmaram o seu “profundo e
permanente compromisso” quer para com a CEDH, quer para com o Tribunal
Europeu dos Direitos do Homem, mas mantiveram ser necessário responder
aos novos desafios.Por isso, os
participantes apelaram ao comité de ministros do Conselho da Europa
(composto pelos ministros dos Negócios Estrangeiros dos 46
Estados-membros) para que elabore um projeto de declaração política
sobre a responsabilidade dos governos de garantir os interesses
nacionais, como a segurança e a ordem pública.Prevê-se
que a declaração política seja adotada na próxima sessão formal do
comité de ministros, agendada para maio próximo, em Chisinau, Moldova.Além
disso, os ministros defenderam a elaboração de uma nova recomendação
sobre a identificação e combate ao tráfico de migrantes.A
CEDH é um tratado assinado pelos 46 Estados-membros do Conselho da
Europa que garante o respeito pelas liberdades fundamentais, sendo a sua
implementação monitorizada pelo Tribunal Europeu dos Direitos Humanos.