Espécies marinhas japonesas atravessaram o oceano Pacífico em detritos de plástico
28 de set. de 2017, 18:17
— Lusa/AO online
Num estudo publicado hoje na revista Science,
investigadores da Universidade Estadual de Oregon, Estados Unidos,
revelam um novo papel dos detritos marinhos não-biodegradáveis,
relacionado com o transporte de espécies invasoras. Entre 2012
e 2017 foram documentadas quase 300 espécies de animais marinhos que
chegaram vivos à América do Norte e ao Havai em objetos, como vasos,
boias e caixas de plástico, lançados ao mar na sequência do tsunami que
ocorreu no Japão em março de 2011 e que provocou o acidente nuclear de
Fukushima. Estas espécies, além de sobreviverem a uma longa
viagem no Pacífico Norte, num ambiente que os investigadores classificam
como hostil, sobreviveram durante pelo menos mais quatro anos do que as
espécies estudadas em observações anteriores. No final da
primavera de 2017, seis anos depois do tsunami, continuavam a chegar à
América do Norte e ao Havai detritos marinhos com espécies japonesas
vivas. “Alguns destes organismos podem ser extraordinariamente
resilientes”, afirma na Science o investigador John Chapman, relembrando
a surpresa da descoberta de espécies japonesas nas costas do estado de
Oregon pela primeira vez.Entre 2012 e 2014, chegaram ao Oregon e a
outras zonas costeiras pedaços de madeira de casas e outros edifícios
que traziam espécies japonesas, mas os desembarques de madeira
diminuíram drasticamente após 2014. Este declínio chamou a
atenção da equipa de cientistas para o facto de que eram os detritos
não-biodegradáveis, como plásticos ou fibras de vidro, que continuavam a
permitir a sobrevivência e transporte a longo prazo de espécies
não-nativas.Por outro lado, a investigação sugere também que a
urbanização costeira e as tempestades, incluindo os recentes furacões e
cheias em todo o mundo, podem implicar um crescimento significativo do
papel dos detritos marinhos enquanto veículos para espécies invasoras. “Considerando
que podem entrar nos oceanos mais de 10 milhões de toneladas de
plástico todos os anos, e considerando que se prevê o aumento de
furacões e tufões, capazes de arrastar grandes quantidades de detritos,
há um grande potencial para o aumento significativo da quantidade de
detritos nos oceanos”, explica James Carlton, autor principal do estudo.O
investigador acrescenta ainda que estes dados merecem uma atenção
crescente, tendo em conta o custo económico e os impactos ambientais
documentados da proliferação de espécies marinhas invasoras em todo o
mundo.Os investigadores estão a classificar a travessia do
pacífico por espécies marinhas transportadas em resíduos de plástico
como uma das maiores experiências não planeadas da biologia marinha,
talvez na história da ciência.