Especialistas querem medicamentos para obesidade comparticipados
28 de out. de 2024, 12:19
— Lusa/AO Online
Em
declarações à Lusa no dia em que a Assembleia da República acolhe uma
conferência para debater as soluções para agilizar o acesso a consultas e
tratamentos, a presidente da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia,
Diabetes e Metabolismo (SPEDM) lembrou que, 20 anos depois de Portugal
considerar a obesidade uma doença crónica, “muito pouca coisa foi
feita”.“É preciso tomar medidas. Há todo
um processo assistencial integrado de obesidade que é preciso pôr em
prática”, disse Paula Freitas, referindo que é preciso aumentar o
acesso.Destacou a importância do
tratamento farmacológico na obesidade e insistiu na necessidade de
”pensar também em modelos de comparticipação”.A
presidente da SPEDM considerou ainda que “este é o momento ideal” para
agir e pediu que o tratamento da obesidade “seja uma prática na
realidade e não apenas um programa no papel”.Na
conferência, que contará com a presença da diretora-geral da Saúde,
Rita Sá Machado, e do diretor executivo do Serviço Nacional e Saúde
(SNS), Gandra d´Almeida, a SPEDM e a Sociedade Portuguesa para o Estudo
da Obesidade (SPEO) vão apresentar um pacote de quatro medidas para o
combate da obesidade em Portugal.Além da
publicação do Processo Assistencial Integrado (PAI) da Obesidade, que
estava previsto num despacho governamental de 2023, as sociedades
apontam a necessidade de reforçar as ferramentas para garantir o acesso e
monitorização, sugerindo um sistema de incentivos que inclua métricas
“que impulsionem o reforço da resposta de cuidados” no controlo e
combate à obesidade.Paralelamente ao
tratamento cirúrgico, a SPEDM e a SPEO chamam a atenção para a
necessidade de otimizar as vias de acesso à consulta especializada e
multidisciplinar de obesidade, comparticipar o tratamento farmacológico –
“acompanhando a realidade de outros países europeus” – e definir
critérios de acesso a estes tratamentos.“Quando
nós tratamos de obesidade, não estamos só a tratar a obesidade, estamos
a tratar mais de 200 doenças associadas e estamos a tratar mais de 13
tipos de cancro”, sublinhou a presidente da SPEDM.A
este respeito, o presidente da SPEO, José Silva Nunes, recordou que a
sociedade ainda a vê como uma questão estética e um problema “imputada
ao indivíduo”. “Parece que a pessoa tem
obesidade porque escolheu. A obesidade é uma doença crónica, é
multifatorial, é extremamente complexa e, à luz do conhecimento atual,
não sabemos efetivamente o que está envolvido na sua génese”, afirmou,
acrescentando: “Mas uma coisa sabemos, é que não é uma escolha
individual. Há uma componente genética”.Defendeu
que a prioridade deve ser “combater a iniquidade de acesso”, tanto nas
consultas como nos tratamentos, e lembrou que para as cirurgias “só é
elegível uma pequena percentagem das pessoas, que têm graus de obesidade
severa”.José Silva Nunes disse que as
estratégias de prevenção não têm uma eficácia de 100% e questionou:
“falhando a prevenção, uma vez desenvolvida a obesidade, se a pessoa não
tiver critério para fazer a intervenção cirúrgica o que fazer?”.O
presidente da SPEO chamou a atenção para a importância da ajuda dos
medicamentos e sublinhou que a comparticipação, apesar de sair cara ao
Estado, é um investimento que acaba por ser compensado a médio/longo
prazo.Aqui, apontou a necessidade de
criar, em Portugal, um grupo farmacoterapêutico de fármacos para a
obesidade. “Face a outras doenças crónicas, como a diabetes, a obesidade
está a ser discriminada”.“Se conseguíssemos erradicar a obesidade (…), aqui em Portugal havia menos 80% de casos de diabetes”, afirmou José Silva Nunes.Um
estudo sobre o custo e a carga de obesidade em Portugal desenvolvido
pela SPEO (referente a 2018) indicou que, em custos diretos com a
obesidade e as doenças associadas, foi gasto 1,12 mil milhões de euros.
“Este valor é um absurdo. Portanto, é
verdade que se gasta muito com a comparticipação, mas aquilo que se tem
em termos de retorno a médio e a longo prazo é custo eficaz”, disse.