Especialistas em proteção das plantas querem ajudar a alterar práticas nocivas ao ambiente
26 de out. de 2017, 16:12
— Lusa/AO online
Maria do Céu Godinho, docente de
Proteção das Plantas na ESAS (Instituto Politécnico de Santarém) e da
comissão organizadora do encontro que hoje reuniu duas sociedades
científicas - a de Ciências Agrárias de Portugal e a de Fitopatologia, e
também a organização do Encontro Nacional de Proteção Integrada -,
disse à Lusa que atualmente "já é muita a informação e o conhecimento
científico que dá conta de que é urgente alterar as práticas" ainda
muito associadas ao uso de pesticidas, com impactos na saúde mas também
no ambiente. Com a participação de 270 pessoas, o encontro
começou por abordar a questão das alterações climáticas, que têm
impactos na agricultura mas que também têm na sua origem, entre uma
multiplicidade de outros fatores, as más práticas agrícolas, em
particular o uso de fatores de produção de origem sintética. "Quando
usamos muitos pesticidas estamos a usar muitos produtos que obrigaram a
uma produção de síntese e que têm a montante um conjunto de energia
gasta", disse a investigadora à Lusa. Maria do Céu Godinho
afirmou que os estudos hoje apresentados apontam para a necessidade de
se "mudar o paradigma da abordagem destas problemáticas, que tem de ser
cada vez mais ao nível do ecossistema", através da agroecologia. "Falta-nos
agora passar para a prática, para os terrenos", declarou, afirmando que
a realização do encontro em Santarém visou precisamente conseguir
chegar junto dos produtores do Vale do Tejo, do Ribatejo e Oeste, e da
zona Sul do país. O objetivo é "ter cada vez mais produtos de
qualidade, mas também cada vez mais garantia de que as águas estão
preservadas, que o ambiente é preservado, que as abelhas são
preservadas", disse, salientando que o desaparecimento dos polinizadores
é hoje uma realidade. Céu Godinho afirmou que os estudos
científicos apontam para alternativas, biológicas e mecânicas, com
recuperação de técnicas usadas por gerações anteriores, mas apuradas,
com recurso à agricultura de precisão. "Não significa que vamos
passar todos a fazer agricultura no quintal como faziam os nossos avós,
mas recuperar muitas das técnicas que davam bons resultados, que foram
abandonadas pela nova panaceia dos pesticidas e que agora se percebe que
por si só não são suficientes e que temos que integrar outros meios de
luta", frisou. Céu Godinho sublinhou que as práticas alternativas
não permitem abdicar totalmente do recurso a pesticidas, área que tem
sido amplamente legislada a nível comunitário, sendo objetivo dos
cientistas levar a que as fitofarmacêuticas "ofereçam produtos eficazes,
cada vez mais inofensivos para o ambiente". Afirmando que o
encontro teve financiamento de algumas destas empresas, a docente
apontou o interesse destas também no papel das escolas superiores
agrárias na preparação dos utilizadores para o "bom uso" dos pesticidas,
reduzindo as quantidades e usando-os apenas nos momentos mais
adequados. Um dos casos hoje abordados foi o do míldio da
videira, salientando Céu Godinho que se o agricultor souber "exatamente
quando tem que o tratar" irá "diminuir o número de intervenções, o que
poupa dinheiro e impacto ecológico".