Especialista do Hospital São João defende acesso generalizado a testes
Covid-19
18 de mai. de 2022, 11:26
— Lusa/AO Online
“Não
tenho dúvida nenhuma da necessidade de generalizar o acesso aos testes
para que os serviços de urgência, que são neste momento o ponto mais
fulcral desta pressão, possam ser aliviados”, disse Nelson Pereira.O
médico, que falava aos jornalistas em frente ao serviço de urgência
deste hospital do Porto onde foram admitidos quase 950 doentes na
terça-feira, 50% dos quais positivos para o vírus SARS-CoV-2, recomendou
às autoridades nacionais de saúde “uma análise muito detalhada e
refletida sobre o que está a acontecer”.“Enterrar a cabeça na areia não faz sentido”, referiu.No Hospital de São João estão internados cerca de 80 doentes com covid-19, dos quais 10 em cuidados intensivos.Nelson
Pereira apontou que “a situação epidemiológica não é mais difícil”, mas
falou em “problema de gestão”, razão pela qual pediu “mais planeamento e
mais antecipação”.“Com isto não quero
apontar nenhuma medida específica, mas claramente dizer que, pelo menos
na região Norte e no nosso hospital - que costuma ser um farol
relativamente à situação nacional -, a situação é de agravamento e
justifica a ponderação de algumas medidas”, afirmou.Num
momento em que o Hospital de São João está a equacionar ativar o nível 3
do plano de contingência, decisão que tomará até ao próximo fim de
semana e que pode implicar a interrupção de 20% da atividade programada,
o diretor admitiu que “neste momento está a ser extremamente difícil
garantir em tempo útil o atendimento com qualidade a todos os doentes”.“É
algo que não queremos deixar de fazer”, desabafou, apelando à tomada de
medidas generalizadas que permitam atenuar a pressão, que diz saber que
“vários hospitais estão a sentir”.Falando
em “máximos históricos” de admissões no serviço de urgência e em
“equipas extremamente cansadas”, Nelson Pereira disse que não gosta da
expressão “linha da frente”, mas decidiu usá-la hoje porque em causa
está “aliviar quem está, de facto, na linha da frente”.“Gerar
equilíbrios ao nível hospitalar é muito difícil numa altura em que a
resposta que as pessoas têm para poderem testar e fazerem o seu caminho
para gerir a sua própria doença está diferente do que foi no passado”,
analisou.Na semana passada, também em
declarações aos jornalistas para dar nota de um recorde de admissões no
serviço de urgência, 1.022 doentes em 24 horas, que “já preocupava” o
hospital, Nelson Pereira pediu “coerência” nas medidas relacionadas com a
covid-19, lembrando que os testes deixaram de ser gratuitos e que o
abandono da máscara coincidiu com momentos festivos. A 10 de maio, em resposta à pergunta sobre se tinha receio que este
cenário piorasse, o especialista foi perentório: “Não tenho dúvida
nenhuma que pode acontecer”.segundo dados
divulgados na terça-feira pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor
Ricardo Jorge (INSA), a linhagem BA.5 da variante Ómicron tem
apresentado uma frequência relativa "marcadamente crescente",
estimando-se que já seja dominante em Portugal.A
Organização Mundial de Saúde (OMS) já admitiu que essa linhagem, que
apresenta várias características genéticas consideradas de interesse
pelos especialistas, caso de mutações com impacto na entrada do
coronavírus nas células, pode ser mais transmissível do que a BA.2, mas
ressalvou que ainda não existem dados que comprovem que provoca covid-19
mais grave.