Especialista admite correções à Lei do Mar a favor das regiões autónomas
17 de abr. de 2025, 10:32
— Lusa/AO Online
“Aquilo
que me parece evidente que não pode acontecer, é uma região autónoma
ser tratada como se fosse um serviço dependente de outros serviços
centrais”, disse Vasco Becker-Weindberg, que é também mestre em Ciências
Jurídico Internacionais, numa audição na comissão eventual de
Acompanhamento das Políticas Marítimas do parlamento açoriano, reunida
em Ponta Delgada.O especialista, que já
foi deputado no Parlamento Europeu, eleito pelo CDS-PP, admitiu que, se
pudesse voltar atrás no tempo, sugeria alterações à redação da chamada
Lei do Mar, que considera as águas que envolvem os Açores e a Madeira
como matéria da exclusiva competência da República.“Hoje,
se tivesse que atuar novamente como legislador nesta matéria,
apresentaria soluções mais arrojadas e mais inovadoras e, seguramente,
não seguindo o modelo que foi seguido na altura, ainda que por decisão
política”, insistiu Vasco Becker-Weinberg.Respondendo
a questões colocadas pelos deputados a propósito das divergências que
esta matéria tem gerado entre a República e as regiões autónomas, o
especialista considerou que o mar não devia ser motivo de divisão, mas
sim de união.“Acho que não faz qualquer
sentido que se mantenha esse sentimento de desconfiança de parte a parte
quando o mar deve, obviamente, nos unir e deve ser capaz de gerar boas
soluções e não ser motivo de divisão”, defendeu.Vasco
Becker-Weinberg recordou que, em matéria de gestão das suas águas, o
arquipélago dos Açores já deu provas concretas da sua capacidade ao
aprovar recentemente na Assembleia Regional um diploma que aumenta para
30% as áreas marinhas protegidas na região autónoma.“Aqui
há vários exemplos bem-sucedidos, onde as regiões autónomas desempenham
um papel fundamental, eu diria mesmo insubstituível, ou seja, a ação do
Estado centralizador não faria melhor do que as regiões autónomas fazem
já hoje”, realçou o especialista, referindo-se às novas reservas
marinhas.O secretário regional do Mar e
das Pescas, Mário Rui Pinho, também ouvido pela comissão eventual
de Acompanhamento das Políticas Marítimas, defendeu, por outro lado, que
uma resolução do conflito entre as regiões autónomas e a República em
matéria de gestão do mar passa por uma revisão constitucional.“Penso
que começa a haver na região autónoma dos Açores, e também na Madeira,
um consenso generalizado de que é preciso haver aqui uma clarificação
relativamente a este conceito de gestão partilhada da titularidade do
domínio público marítimo”, realçou o governante.A
Assembleia Legislativa dos Açores está a ouvir personalidades e
instituições sobre a gestão do mar dos Açores e da Madeira, contemplado
na Lei de Bases de Ordenamento do Espaço Marítimo, aprovada em 2014.O
diploma nacional foi revisto em 2023, mas sem corrigir os artigos que
eram contestados pelos dois arquipélagos, situação que gerou um novo
protesto por parte do Governo Regional, liderado pelo social-democrata
José Manuel Bolieiro.“Não pode a proposta
de lei em apreciação, simplesmente ignorar ou violar o Estatuto Político
e Administrativo da região nesta matéria, não prevendo um efetivo
procedimento decisório de gestão partilhada dos órgãos de governo
próprio das regiões autónomas”, referia o parecer enviado na altura pelo
executivo açoriano.A Assembleia
Legislativa dos Açores também emitiu, na mesma ocasião, um parecer
desfavorável às alterações à Lei do Mar, por entender que a iniciativa
“não respeita a autonomia regional”, além de “esvaziar” as competências
dos Açores.