Espanha recua na compra de balas a Israel que abriu crise na coligação no Governo
24 de abr. de 2025, 16:49
— Lusa/AO Online
Fontes oficiais
do Governo espanhol, uma coligação formada pelo Partido Socialista
(PSOE) e a plataforma de esquerda Somar, disseram à agência Lusa que o
contrato com uma empresa israelita para comprar munições, no valor de
6,6 milhões de euros, vai ser rescindido "de forma unilateral".Segundo
as mesmas fontes, esta decisão foi tomada pelo chefe do Governo, o
socialista Pedro Sánchez, e pela vice-presidente Yolanda Díaz, do Somar,
assim como pelos ministérios envolvidos."Os
partidos do Governo de coligação progressista estão firmemente
comprometidos com a causa da Palestina e a paz no Médio Oriente. Por
isso, Espanha não compra nem vende armamento a empresas israelitas desde
07 de outubro de 2023", disseram as mesmas fontes, numa referência ao
ataque a Israel do grupo islamita palestiniano Hamas, que desencadeou
uma resposta militar de Telavive e a guerra no território palestiniano
de Gaza, onde já morreram mais de 50 mil pessoas.O
Governo espanhol garantiu que "os processos de compra que continuam
abertos" com empresas israelitas foram iniciados antes de 7 de outubro
de 2023 e todos os que estiverem relacionados com armamento "não se vão
executar".A notícia de que Espanha avançou
com a compra de 15,3 milhões de balas a uma empresa de Israel abriu, na
quarta-feira, "a maior crise" da legislatura no Governo de Pedro
Sánchez, segundo um dos partidos da plataforma Somar."A
Esquerda Unida não vai tolerar que nenhuma verba financie um Estado
genocida. Não é suficiente pedir explicações. (...) O PSOE abriu a maior
crise desde que formámos o Governo em 2023", disse o líder da Esquerda
Unida (IU, na sigla em espanhola), Antonio Maíllo.O
líder parlamentar da IU, Enrique Santiago, admitiu mesmo a
possibilidade de o Somar sair total ou parcialmente do Governo e
defendeu a demissão de dois ministros socialistas, a da Defesa,
Margarita Robles, e o da Administração Interna, Fernando
Grande-Marlaska, que autorizou o contrato de compra de balas a Israel,
destinadas a serem usadas pela força policial Guarda Civil.O
Somar tem cinco ministros no Governo liderado pelo socialista Pedro
Sánchez. A IU, em concreto, tem uma ministra, Sira Rego, que tem a pasta
da Juventude e Infância e é filha de pai palestiniano.A
dirigente do Somar com maior protagonismo e peso no Governo é Yolanda
Díaz, ministra do Trabalho e uma das vice-presidentes de Pedro Sánchez,
que na quarta-feira não falou em crise na coligação ou na possibilidade
de abandonar o cargo, mas considerou estar em causa uma "violação
flagrante dos acordos" assumidos no seio do Governo e pediu explicações
ao colega da Administração Interna, assim como um recuo na compra das
balas a Israel.O Ministério da
Administração Interna confirmou na quarta-feira que tinha avançado com a
aquisição de 15,3 milhões de balas a uma empresa de Israel, apesar do
embargo de compra de armas a este país anunciado pelo Governo espanhol e
de em outubro de 2024 o executivo ter garantido que ia cancelar este
contrato em concreto, depois de ter sido noticiado que a Guarda Civil
tinha adjudicado a aquisição a uma empresa israelita.O
ministério justificou que tinha seguido um parecer da Advocacia Geral
do Estado, que recomendou que não fosse rescindido o contrato atendendo
ao custo que teria por causa da "fase adiantada" de operacionalização em
que já estava.A adjudicação final do contrato foi publicada oficialmente na sexta-feira passada, feriado nacional.O
Governo espanhol reconheceu o Estado da Palestina em maio do ano
passado e Pedro Sánchez tem sido dos líderes europeus mais contundentes
no apoio aos palestinianos e na condenação de Israel por causa da guerra
em Gaza, provocando críticas por parte do executivo israelita e tensões
diplomáticas entre os dois países.