Espanha apoia Ocidente, mas extrema-esquerda no Governo está contra
Ucrânia
24 de jan. de 2022, 15:21
— Lusa/AO Online
O setor maioritário no
executivo, do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), mostra
publicamente o seu apoio total e inequívoco à NATO (Aliança Atlântica),
enquanto o minoritário, do Unidas Podemos (extrema-esquerda), classifica
essa posição de “irresponsável”, recuperando o “não à guerra” que a
esquerda utilizou em 2003 contra a “foto dos Açores” em que estava José
Maria Aznar, o primeiro-ministro da altura, do Partido Popular (PP,
direita).Esta divisão contrasta com o
apoio da totalidade da oposição de direita – PP, Vox (extrema-direita) e
Cidadãos (direita -liberal) - ao atual chefe do executivo, o socialista
Pedro Sánchez.O Unidas Podemos assinou
mesmo um manifesto de “recusa frontal” ao envio de tropas para o Mar
Negro e a Bulgária, juntamente com outros pequenos partidos da esquerda
espanhola que normalmente apoiam no parlamento as iniciativas do
Governo: Bildu (independentistas bascos), Compromís (nacionalistas
valencianos), BNG (nacionalistas galegos), e Mais País (cisão em Madrid
do Podemos)."Não nos podemos permitir
ficar presos a um velho esquema da Guerra Fria", defende o texto
assinado pelos parceiros de Sánchez, ao mesmo tempo que apelam ao
primeiro-ministro para respeitar a "soberania dos povos" e rejeitar
"ameaças militares de um país a outro Estado soberano, bem como qualquer
mudança de fronteira através da agressão militar".Entretanto,
Pedro Sánchez teve uma série de contactos com líderes internacionais
durante o fim de semana para tratar da situação na Ucrânia, tendo
reiterado ao secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, o compromisso
da Espanha para com a Aliança Atlântica e a segurança da Europa."Apoiamos
a soberania e a integridade territorial da Ucrânia e confiamos que a
diplomacia e o diálogo serão o caminho para a diminuição da
intensificação desta crise", afirmou no domingo Pedro Sánchez na sua
conta da rede social Twitter.Irritou ainda
muito os parceiros do PSOE, que Madrid tenha decidido enviar para a
zona uma fragata, dois caça-minas e se tenha oferecido para enviar
aviões de combate para a Bulgária.O líder
do principal partido da oposição, Pablo Casado (PP), apesar de apoiar a
posição oficial de Madrid, fez este fim de semana um apanhado de
opiniões e comentários de membros do Unidas Podemos no Governo que foram
contrários à posição oficial do executivo e perguntou a Sánchez se ele
"iria pôr o seu Governo em ordem".O
presidente do PP salientou que esses membros do executivo "estão a
insultar a NATO e a sua ministra da Defesa", Margarita Robles, em
relação à crise com a Ucrânia."Se o governo espanhol é um só, tem de haver uma posição clara sobre um conflito tão grave como o da Ucrânia", sublinhou ele.O
ex-líder do Podemos e antigo vice-presidente do Governo de Sánchez,
Pablo Iglesias, atacou por motivos diferentes a ministra da Defesa, por
esta se ter referido ao confronto da NATO com a Rússia na Ucrânia como
"uma guerra humanitária"."Acha que as
pessoas são estúpidas e não sabem que a NATO é uma aliança militar para
proteger os interesses dos Estados Unidos?”, disse Iglesias,
acrescentando: "Já não sou político, posso dizer a verdade".A
esquerda espanhola recorda o que aconteceu em 2003 numa cimeira nos
Açores em que foi decidido lançar um ultimato ao Iraque com base na
existência de armas de destruição em massa, nomeadamente químicas, que
viria a revelar-se infundada, como reconheceram, anos mais tarde, todos
os participantes da Cimeira das Lajes.George
W. Bush (Estados Unidos), Tony Blair (Reino Unido) e José Maria Aznar
(Espanha), recebidos pelo primeiro-ministro português da altura, José
Manuel Durão Barroso, reuniram-se na ilha Terceira, na tarde de
16 de março de 2003, para uma cimeira que culminou, quatro dias depois,
na madrugada de 20 do mesmo mês, com o início da intervenção militar no
Iraque.Os chefes de diplomacia da União
Europeia discutem em Bruxelas a tensão no Leste da Europa, à luz do
conflito entre Ucrânia e Rússia, numa reunião na qual participa por
videoconferência o chefe da diplomacia norte-americana, Anthony Blinken.Os
ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27 voltam a reunir-se sem que a
situação de tensão entre Ucrânia e Rússia tenha desanuviado,
persistindo a séria ameaça de um ataque russo, apesar de todos os
esforços que estão a ser feitos no plano diplomático, designadamente
através dos Estados Unidos, o interlocutor com o qual Moscovo aceitou
dialogar.Ao longo da última semana,
enquanto prosseguiram as negociações entre Washington e Moscovo em torno
das exigências russas para não atacar a Ucrânia, que considera uma
ameaça à sua segurança nacional, a União Europeia insistiu que qualquer
nova agressão militar russa contra a integridade territorial e soberania
da Ucrânia terá um preço elevado, acenando com a ameaça de “sanções
económicas e financeiras maciças”.