Escritora Clara Pinto Correia morre aos 65 anos
9 de dez. de 2025, 17:54
— Lusa/AO Online
De
acordo com o jornal Correio da Manhã, Clara Pinto Correia, que há já
alguns anos se afastara do meio mediático, foi encontrada morta na sua
casa, em Estremoz.Escritora, bióloga e
professora universitária, a autora do romance “Adeus Princesa”,
publicado aos 25 anos, destacou-se tanto ao nível das ciências, como da
literatura, tendo ainda sido cronista, jornalista, apresentadora e até
atriz, no filme “Kiss me” (2004), de António Cunha Telles.Licenciada
em Biologia pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, em
1984, doutorou-se em 1992 em Biologia Celular, pelo Instituto de
Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto, embora já
estivesse integrada no corpo docente da Faculdade de Medicina da
Universidade de Lisboa, na área de biologia celular e histologia e
embriologia.Viveu nos Estados Unidos, onde
continuou os estudos, fez investigação e publicou obras científicas,
regressando a Portugal em 1996, para se dedicar à docência
universitária.A par da biologia, área por
que se apaixonou ainda na infância, durante o período em que viveu com
os pais em Angola, Clara Pinto Correia desenvolveu uma profícua carreira
de escritora.Muito para lá dos livros
científicos, Clara Pinto Correia cedo se começou a dedicar à literatura,
tendo publicado aos 23 anos, em parceria com outras escritoras, o livro
“Anda uma mãe a criar filhas para isto”.Dois
anos depois publicou aquele que se tornaria o seu mais conhecido
romance, “Adeus, Princesa”, que teve na altura, um grande impacto junto
da crítica, que chegou a classificá-lo como “um dos livros notáveis de
1985”.“Ponto Pé de Flor”, “A Mulher
Gorda”, “Domingo de Ramos”, “Clonai e Multiplicai-vos”, “A Ilha dos
Pássaros Doidos”, “A Deriva dos Continentes” e “Mais que Perfeito”, são
apenas alguns dos títulos da quase meia centena que publicou.Durante
muitos anos, a autora foi uma figura pública marcante em Portugal, quer
pelas suas obras, como pelo cruzamento que fez entre ciência,
literatura e comunicação, mas também pela sua presença mediática.No
entanto, sofreria uma queda do palco mediático para uma vida de
dificuldades pessoais e profissionais, tendo perdido o emprego e
enfrentado problemas financeiros, vendo-se obrigada a sair da sua casa
de longa data, em Sintra. Clara Pinto
Correia contou esta sua história, numa entrevista à revista Sábado em
janeiro de 2025: “Fiquei sem emprego, sem qualquer espécie de trabalho.
Primeiro que começasse a receber o subsídio de desemprego foram quase
dois anos. Nas filas da Segurança Social olhavam para mim de esguelha. A
minha senhoria da casa no Penedo [perto de Colares, Sintra] pôs-me uma
ordem de despejo. Há 30 anos que lhe arrendava a casa e dava-me
lindamente com ela”.Em 2003, foi acusada
de plágio relativo a um artigo de opinião publicado na revista Visão, a
que na altura reagiu afirmando nem sequer saber do que se estava a
falar.No ano passado publicou “Antares”,
um romance que decorre ao longo de uma única noite, sob o brilho
constante da estrela vermelha que lhe dá nome, e que a própria autora
diz ter escrito como uma “mensagem de esperança”, para “que as pessoas
não se esquecessem de todas as coisas boas que a vida lhes ofereceu”.