Escritor João de Melo distinguido com a Medalha de Mérito Cultural
6 de mar. de 2019, 12:35
— Lusa/AO Online
“Em
reconhecimento do inestimável trabalho de uma vida dedicada à produção
literária e à escrita, à melhor promoção do nosso País no estrangeiro,
tanto da Língua como da identidade cultural portuguesa, ao longo de mais
de cinquenta anos, entende o Governo Português prestar pública
homenagem ao escritor João de Melo, concedendo-lhe a Medalha de Mérito
Cultural”, afirma o Ministério da Cultura, numa nota enviada à
comunicação social.A cerimónia de entrega
da medalha terá lugar na próxima terça-feira, dia 12 de março, às 15h30,
na Sala D. João VI do Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa.O
escritor açoriano, nascido João Manuel de Melo Pacheco, no dia 04 de
fevereiro de 1949, em Achadinha, freguesia do concelho do Nordeste, Ilha
de São Miguel, mudou-se para o continente aos 11 anos, após terminar o
ensino primário. Frequentou o Seminário
dos Dominicanos – onde descobriu o gosto pela leitura e pela escrita da
literatura – até 1967, ano a partir do qual ficou a viver em Lisboa,
tendo recomeçado os seus estudos liceais ao mesmo tempo que trabalhava
na função pública.João de Melo iniciou, na
mesma altura, uma prolongada e diversificada colaboração na imprensa
cultural, primeiro no Diário Popular e no Diário de Lisboa (nos quais
publicou os primeiros contos aos 18 anos de idade), depois nas revistas
literárias Signo, Aresta, Sílex, África, Ler, Vértice, o suplemento
Glacial do jornal A União, Colóquio/Letras, Letras ComVida, Suroeste e
muitas outras.A sua produção literária
para a imprensa cultural traduziu-se em poesia, contos, crítica
literária, ensaios e artigos de opinião. Em
1970, integrou o exército, tendo cumprido o serviço militar no norte de
Angola durante 27 meses e em zona de guerra, com o posto de furriel e a
especialidade de enfermeiro. Essa
vivência inspirou algumas das suas ficções, como os romances “A Memória
de Ver Matar e Morrer” (1977) e “Autópsia de um Mar de Ruínas” (1984),
este último considerado uma obra de referência na literatura portuguesa
sobre o tema colonial. Após a revolução de
Abril, trabalhou na vida sindical e revelou novos autores, muitos dos
quais consagrados na literatura portuguesa atual. Publicou
o seu primeiro livro de contos, “Histórias da Resistência” em 1975, a
que se seguiram ensaios literários e textos críticos, poesia e a
Antologia Panorâmica do Conto Açoriano.Trabalhando
e estudando sempre, ingressou em 1976 na Faculdade de Letras da
Universidade de Lisboa e no curso de Filologia Românica, sendo aí
monitor convidado na área da literatura portuguesa e francesa. Concluiu a
licenciatura em 1981, com alta classificação. A
partir desse ano, envereda pela carreira docente, que acumula com a
produção ensaística e literária e, em 1983, edita aquele que se tornou
um dos romances mais lidos, “O Meu Mundo não é Deste Reino”, que colocou
o seu nome a par da geração dos novos narradores dos anos 1980, com a
particularidade de libertar o regionalismo insular para um imaginário
suscetível de tomar os Açores por um “lugar de todo o mundo”.Em
1988, “Gente Feliz com Lágrimas”, a sua obra mais conhecida, veio em
definitivo selar essa dimensão de “universalidade”, sendo distinguida
com vários prémios literários e adaptada ao teatro e à televisão, em
série e telefilme.Várias outras obras suas
foram merecedoras de distinções e foram traduzidos em Espanha, Itália,
França, Holanda, Roménia, Bulgária, Estados Unidos, Hungria, Alemanha,
Reino Unido, Sérvia, México e Colômbia.João
de Melo desempenhou durante nove anos (2001-2010), o cargo de
conselheiro cultural na Embaixada de Portugal em Madrid, Espanha, tendo
criado em 2003, na capital espanhola (e depois noutras cidades) a
“Mostra Portuguesa”.Foi por sugestão de
João de Melo que os Ministérios da Cultura de Portugal e Espanha
decidiram criar em 2006 o Prémio Luso-Espanhol de Arte e Cultura, cujo
regulamento redigiu. O escritor foi
condecorado com a Ordem de Santiago da Espada, Grau de Cavaleiro (1989),
e com a Ordem do Infante Dom Henrique, Grau de Comendador (2015).
Recebeu a Medalha de Mérito Cívico da Assembleia Regional dos Açores
(2009) e o Diploma de Mérito Municipal do Nordeste (2008). É cidadão
honorário deste concelho desde 2014.