Equipa portuguesa afina detalhes com vista à vitória na Ocean Race Europe
13 de mai. de 2021, 11:47
— Sofia Ramos Silva /Lusa/AO Online
Já
lá vão quase três semanas de trabalho intenso de uma tripulação jovem
que vai levar a sustentável embarcação ‘Racing for the Planet’, da
Fundação Mirpuri, a competir na regata oceânica, que terá em Cascais o
primeiro dos quatro ‘stopovers’ da competição, prevista arrancar a 29
de maio, em Lorient, França, e terminar na terceira semana de junho, em
Génova.Aos 11 velejadores de bordo,
juntam-se os elementos da equipa de terra - entre os quais o conceituado
Bruno Dubois, vencedor da última edição da Volvo Ocean Race com a
Dongfeng Race Team -, que, coordenados, afinam os últimos detalhes da
embarcação, treino de navegação, estratégias, preparação física,
psicológica e alimentar, num trabalho em conjunto para tentar lidar da
melhor forma possível com o imprevisível.“Estamos
praticamente prontos para sair. Vamos subir o barco para finalizar o
acabamento e ficar perfeito. Temos o barco muito bem preparado, mas
obviamente que com o Covid-19 não é fácil planear nada. Nem
logisticamente é muito fácil, mas estamos a conseguir dar a volta”,
comentou na Marina de Cascais António Fontes, responsável pela equipa de
terra, acrescentando ser “complicado planear, sem saber o dia de
amanhã, o que se vai passar em França e se vão até mesmo conseguir
entrar no país”.Em vésperas da partida
para Lorient, a Lusa embarcou como tripulante visitante no VO65 de
design único. O vento soprava os vulgares ‘carneirinhos’ no mar, o que é
bom para velejar, comentavam os profissionais, e a ondulação, de impor
algum respeito entre leigos, para velejadores experientes parecia “água
numa banheira”, como comentava o olímpico português Bernardo Freitas.Entre
a azáfama no convés, ora enrolando cabos, ora içando e mudando a
posição das velas, uma delas nova e a ser testada pela primeira vez, o
‘skipper’ francês Yoann Richomme, imponente ao leme, dava indicações aos
portugueses Mariana Lobato, Bernardo Freitas e Frederico Melo, ao
australiano Jack Bouttell, ao gaulês Nicolas Lunven, aos ingleses Emily
Nagel, Olly Young e Rob Bounce e ao espanhol Willy Altadill,
acompanhados pelo ‘onboard reporter’ Martin Keruzoré.“Estou
muito contente com a minha tripulação, é jovem, mas tem bastante
experiência. Sinto-me um sortudo. Partimos dia 15, vamos fazer cerca de
três dias de viagem até Lorient e mais 10 dias de treino em França.
Ainda temos algum trabalho pela frente, mas a equipa já está bem
oleada”, considerou Yoann Richomme.Além de
garantir estar a tripulação “a aproveitar todas as oportunidades para
melhorar o desempenho, desde a parte mental, nutrição, treino físico,
manutenção a bordo e de equipamento”, o ‘skipper’ gaulês confessa sentir
que foi “colocado tudo neste projeto.”“O
primeiro objetivo é, antes da corrida começar em Lorient, estarmos
contentes com o que fizemos, porque a regata será outra história e muita
coisa pode acontecer. O principal objetivo, contudo, é ganhar a Ocean
Race Europe”, admitiu o homem do leme, reconhecendo que “seria bom
vencer a primeira etapa, em Cascais, mas, numa corrida como esta, o mais
importante é não cometer erros graves, porque, não sendo uma regata
longa, não haverá muitas hipóteses de recuperar.”Com
o VO65 livre de plástico e a navegar em águas abertas, todos têm uma
função específica, além da entreajuda. Emily Nagel faz, por exemplo,
entre outras coisas, a análise dos dados da performance do barco e
Mariana Lobato trata das questões de sustentabilidade e alimentação,
transportada em caixas de inox com bamboo, dentro de sacos térmicos de
serapilheira e de pano, costurados pela própria com velas antigas e
aproveitadas também para sacos de roupa.“Tem
sido intenso, mas é essencial para chegarmos ao alto nível que queremos
estar. A integração tem sido boa e tem corrido bem. Estes treinos foram
bons para percebermos as mais valias de cada um e aprendemos uns com os
outros. Adoro este trabalho de equipa”, rejubilou a atleta olímpica
portuguesa, reconhecendo ser necessário, por vezes, “mudar o ‘chip’ e
não ser muito rígida” com os rapazes.Nesta
reta final da preparação, a equipa portuguesa está alojada no mesmo
local, onde fazem avaliação de vídeos, assim como da telemetria do
barco, e partilham as refeições preparadas pelo ‘chef’ Duarte Alves, com
base numa alimentação isenta de glúten, reforçada em hidratos de
carbono e proteína, muito variada, com poucos açucares e alimentos
orgânicos, nacionais e de alto valor nutricional.A
alvorada é cedo e às 7h30 é hora de ginásio, antes do pequeno-almoço, e
da deslocação de bicicleta para a Marina de Cascais, de onde partem
habitualmente para cinco a seis horas de treino no mar.“A
primeira semana foi bastante dura. Fizemos duas tiradas ‘offshore’, uma
de 24 horas e outra de quatro dias, mas foi importante para treinar
para esta regata de etapas curtas, que não nos permitirá entrar na
rotina. Vamos todos ao limite e dormir muito pouco, por isso é preciso
treinar tudo isso, assim como as alterações das velas e as manobras para
tentar estar o mais sólido possível e minimizar ao máximo os erros”,
avançou Bernardo Freitas, antes da Lusa abandonar o barco português, na
sua versão 100% sustentável, rumo a mais um treino até Sesimbra com
vista à ambicionada vitória na Ocean Race Europe.