Envelhecimento da população faz disparar necessidades de terapia da fala
23 de mai. de 2023, 08:19
— Lusa/AO Online
“Na
procura dos serviços da terapia da fala sempre foi recorrente o
problema de os recursos que existem dentro dos hospitais não serem
suficientes", disse a presidente da SPTF, Paula Correia, que falava à
agência Lusa a propósito do III congresso da organização, que decorrerá
entre quinta-feira e sábado, no Centro Ismaili, em Lisboa.
Paula Correia reconheceu, contudo, que o SNS, “contrariamente àquilo
que tinha feito nos últimos 20 anos, nos últimos dois anos resolveu
finalmente abrir um conjunto de vagas e concurso para os terapeutas da
fala", que têm estado a ingressar nos hospitais.
Mas, apesar de estar melhor, disse, “há sempre uma balança que acaba
por ficar desequilibrada”, uma vez que o problema é que Portugal tem
“uma população envelhecida e as suas necessidades de cuidados também
dispararam”.A terapeuta da fala explicou
que a população mais idosa tem uma probabilidade de necessitar destes
cuidados “muito superior” a outras faixas etárias, devido a dificuldades
alimentares, de deglutição, alterações neurológicas, de linguagem na
sequência de AVC e do próprio processo de envelhecimento.Por
outro lado, também existe “alguma dificuldade” relativamente aos
terapeutas da fala que estão em “agrupamento escolares de grandes
dimensões, com grande referenciação de crianças" e que também não
conseguem dar resposta à totalidade dos pedidos.“Portanto,
temos sempre quer seja dentro dos hospitais, quer seja no âmbito mais
educacional, uma procura que é sempre superior à capacidade de
resposta”, insistiu.Questionada sobre se
há falta de profissionais nesta área, Paula Correia disse não ter dados
objetivos, mas adiantou que todas as semanas recebem da SPTF pedidos de
divulgação de vagas para terapeuta da fala.Lembrou
que há 15 anos houve uma “proliferação grande de escolas” que formavam
terapeutas da fala, mas com a crise económica houve muitas que
encerraram. Neste momento, considerou, “o conjunto de profissionais
formados não dá resposta aos pedidos”, mas “ainda não é dramático”.Sobre o congresso, Paula Correia afirmou que visa revisitar as metodologias de avaliação e intervenção em terapia da fala.
“Apesar da terapia da fala já ser uma ciência com alguns anos, tem
obrigatoriamente, como todas as outras, uma escassez de metodologia
validada para o português europeu e, portanto, com algumas lacunas no
conhecimento relativamente às crianças, jovens e adultos que nas suas
mais variadas patologias da comunicação e da deglutição são avaliadas
pelos terapeutas e daí que tenhamos centrado este tema do congresso em
avaliação e intervenção em terapia da fala”, explicou.
No congresso vai ser lançado o "Compendium em Terapia da Fala: avaliar e
intervir com evidência", uma obra pioneira em português europeu, que
será “um marco histórico para a Terapia da Fala, mas também um guia
orientador para as ciências afins, como a medicina (pediatria,
gerontologia, otorrinolaringologia, medicina dentária, neurologia, entre
outras especialidades) e áreas educativas”.