“Entendemos o Walk&Talk como uma Bienal que parte do Atlântico”

14 de nov. de 2024, 11:29 — Rafael Dutra

A proposta da Bienal Walk&Talk 2025, que se realizará entre setembro e novembro de 2025, será apresentada amanhã, dia 15 de novembro, das 19h00 às 00h00, na Aula Magna da Universidade dos Açores, um evento que pretende ser o ‘pontapé de partida’ do ‘caminho para a Bienal’: o primeiro de um conjunto de programas e ações destinados a antecipar e contextualizar os temas da Bienal entre os diversos públicos e comunidades que a associação pretende envolver neste processo coletivo e colaborativo.Participam nesta ocasião as curadoras convidadas para a primeira edição deste novo formato do Walk&Talk, Claire Shea, Fatima Bintou Rassoul Sy, Liliana Coutinho, bem como o diretor artístico da Anda&Fala - Associação Cultural, Jesse James, que, em entrevista ao Açoriano Oriental, aborda as dificuldades, objetivos e intenções da associação que há mais de uma década realiza um festival de âmbito cultural que tem dinamizado a Região, e que passará a ser efetuado num novo formato.De acordo com o diretor artístico da Anda&Fala, o Walk&Talk deixa de ser um festival anual de 10 dias em julho, e passa a ser uma bienal de dois meses, entre setembro e novembro, uma mudança que exige uma reavaliação e um redesenhar total da estrutura e cronograma de atividades do festival.“Para nós, a forma como estamos a trabalhar não está circunscrita no agora, ela procura ponderar e pensar quais são os impactos e  o reflexo desse projeto a médio e longo prazo e não só nos Açores. Cada vez mais interessa-nos pensar no Walk&Talk num contexto transregional: a relação da nossa região com outras”, assinala.Questionado sobre os desafios encontrados neste processo de transição para uma Bienal, Jesse James considera que esta adaptação necessita muitas alterações no que toca à gestão, fluxos de trabalho das equipas artísticas e os compromissos laborais com as equipas e profissionais, por exemplo.Além disso, além de desafiante, acabou por ser um processo “muito importante”, porque ajudou a organização do Walk&Talk a “questionar” modelos de produção e gestão e a “atualizar essas metodologias de trabalho”.Com a existência da vaga — espaço de arte e conhecimento (iniciada em 2020), o Walk&Talk pretende “intensificar e potenciar” a sua “relevância”, no que toca ao “desenvolvimento de públicos”, realizando “dinâmicas muito mais expandidas no tempo e no espaço”, em comparação com a vaga, que tem uma “dimensão mais local”. “O Walk&Talk tem essa dimensão mais abrangente e, no fundo, esses dois projetos partilham intenções, mas vão estar a atuar em escalas muito diferentes”, sublinha Jesse James.Este período de pausa, entre diferentes formatos, permitiu à Anda&Fala “avaliar e entender” tudo o que foi produzido e gerado durante uma década, e foi algo que acabou por dar a este coletivo “uma base” e “segurança” para serem mais rigorosos nas intenções, mas também no “reforço da ambição do projeto”, acrescenta o diretor artístico.O processo de transição para a Bienal permitiu ainda continuar o processo da Anda&Fala de posicionar a região num lugar relevante a nível cultural, reforçando esse rigor, num compromisso “em duas vertentes”, prossegue Jesse James.A primeira das quais está relacionada com a capacidade de ter mais tempo para o trabalho de pesquisa curatorial, em saber o que pretendem abordar, no Walk&Talk, do ponto de vista artístico, social e político, por exemplo, mas também perceber melhor esses mesmos sistemas.Trata-se de um aprofundamento da definição dos temas abordados, de compreender as práticas artísticas que vão acompanhar esse pensamento, que integra uma série de diferentes disciplinas (artes visuais, performativas, design, arquitetura e ciências, entre outras), o que é algo que “enriquece a relevância das discussões” que o Walk&Talk quer ter.“Toda essa pesquisa é benéfica, porque depois ajuda a moldar o que vai ser a estrutura da Bienal e  influencia também o que vão ser as tipologias de eventos que nós vamos apresentar no contexto da Bienal”, destaca Jesse James.A Bienal, de acordo com o diretor artístico da Anda&Fala, inclui a colaboração com uma multiplicidade de pessoas e vai ter uma dinâmica “muito polivocal”, porque vão estar presentes “muitas pessoas”, nas discussões sobre os temas introduzidos que variam destas as “artes à ecologia, ciência, à política e economia”.“Queremos que o Walk&Talk seja um exemplo nesse sentido. Além de um projeto de artes, queremos fazer um projeto social de relação com todas essas disciplinas”, sustenta.Para o agente cultural, há discussões globais das quais os Açores devem fazer parte. “O Walk&Talk é um dos espaços onde essas conversas podem acontecer. Entendemos o Walk&Talk como uma Bienal que parte do Atlântico. É uma oportunidade de falarmos a partir daqui e consolidar a posição da Região, em setores estratégicos como a cultura, a ciência, mas também como a preservação ecológica”, afirma, referindo ainda que é algo que pretende alcançar, tendo em conta “a herança que o festival deixou”, tal como “a ambição que a equipa tem neste momento”.Além da apresentação do programa, a Anda&Fala vai promover, no sábado, das 10h00 às 17h00, a atividade intitulada “Excursão aos vários lados da questão”, uma caminhada pela ilha de São Miguel que pretende refletir várias questões. E, no domingo, será realizada a segunda ‘Assembleia da Abundância’, no Serviço de Desenvolvimento Agrário de São Miguel, das 10h00 às 13h00, com Virgílio Varela.