Engenheiro alerta para risco de novos incêndios no Hospital de Ponta Delgada
3 de abr. de 2025, 16:49
— Lusa/AO Online
“Se não forem feitas selagens
corta-fogo, se não forem instaladas portas corta-fogo, se o sistema de
deteção de incêndios não for instalado, nós estamos a criar as condições
para um novo incêndio. Só falta o fósforo, por que o material
combustível está lá todo!”, advertiu João Mota Vieira na Comissão
Parlamentar de Inquérito (CPI) ao incêndio no HDES, reunida em Ponta
Delgada.Segundo explicou aos deputados, as
zonas onde estão instaladas a farmácia e o arquivo do HDES constituem
um grande risco para a segurança daquela unidade de saúde, de acordo com
os relatórios que já tinham sido feitos pelas autoridades, ainda antes
do incêndio de 4 de maio, que danificou gravemente vários equipamentos
do hospital.Nesse sentido, advertiu que,
“se houver um incêndio nessas zonas, os bombeiros de Ponta Delgada podem
ter enorme dificuldade em combatê-lo porque estamos a falar das
entranhas do hospital e, não havendo compartimentação corta-fogo, o
incêndio vai-se propagar no interior” do edifício.O
técnico, que já tinha sido ouvido noutra comissão parlamentar na
Assembleia Legislativa dos Açores sobre o mesmo assunto, não escondeu as
suas críticas ao Governo Regional e à tutela da Saúde nos Açores, por
entender que não geriram bem a situação após o incêndio.“As
pessoas estão sentadas em cima dum barril de pólvora. Estão a brincar
com o fogo. Como é possível, num hospital desta dimensão, esta
irresponsabilidade?”, questionou o engenheiro, acrescentando: “isto é
quase um crime!”Na sua opinião, as
questões de segurança do HDES deixaram de ser uma prioridade para o
executivo açoriano de coligação (PSD/CDS-PP/PPM) a partir do momento em
que decidiu investir na compra de um hospital modular, opção que
considera ter sido “precipitada”.“A
segurança não era uma prioridade. A prioridade passou a ser o modular e o
edifício principal passou a ser secundário”, lamentou o engenheiro, que
diz estar “muito preocupado” com a falta de condições de segurança no
maior hospital dos Açores.Para João Mota
Vieira, terá existido, em 2024, uma relação entre o aumento do número de
óbitos nas ilhas de São Miguel e de Santa Maria (mais uma centena do
que em 2023) e a falta de investimentos no HDES.“Dificilmente
se pode negar uma ligação entre as decisões tomadas após o incêndio e
este alarmante aumento da mortalidade em São Miguel e Santa Maria”,
insistiu o engenheiro, adiantando que “a situação exige explicações
técnicas, detalhadas, do Governo Regional dos Açores”.Estas
declarações suscitaram a crítica dos deputados do PSD na comissão de
inquérito, que entendem que João Mota Vieira referiu matérias que
extravasam a sua competência técnica.Na
quarta-feira, numa outra audição parlamentar, Marco Ávila, outros dos
engenheiros que elaborou o relatório sobre as causas do incêndio no
HDES, disse ter existido intervenção humana neste caso porque o sinal
sonoro do sistema de alarme foi desligado por alguém.“Esse
sinal tinha sido inibido. A central, com os seus problemas, estava a
funcionar, mas o sinal acústico estava inibido”, realçou aquele técnico,
sublinhando que “a inibição” foi resultado de uma “intervenção
propositada de alguém”.O técnico defendeu que essa questão devia ser investigada pelas autoridades policiais.De
acordo com o relatório destes dois técnicos, o incêndio de 4 de maio,
que destruiu parcialmente o HDES, obrigando à retirada de todos os
doentes para outras unidades de saúde dos Açores, da Madeira e do
continente, teve origem numa “bateria de condensadores de correção do
fator de potência”, que foi tardiamente descoberto.