Enfermeiros manifestaram-se em Lisboa por valorização da carreira
25 de set. de 2024, 16:01
— Lusa/AO Online
No último de dois
dias de greve, nem a chuva afastou os enfermeiros do protesto convocado
pelo Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), que juntou, durante
perto de duas horas, cerca 100 profissionais.“Mantém-se
um amplo descontentamento e os enfermeiros mostram disponibilidade para
continuar a lutar por justas e sensatas soluções para o conjunto de
problemas com que se encontram confrontados”, disse o presidente do
sindicato.Em declarações aos jornalistas,
José Carlos Martins sublinhou a elevada adesão à greve, sem precisar
números referentes ao dia de hoje, depois de, na terça-feira, ter
rondado os 60% a 70%.Além da valorização
da carreira, o dirigente sindical explicou que o SEP exige, desde logo, o
agendamento de uma reunião negocial e criticou o acordo alcançado na
segunda-feira entre o Ministério da Saúde e a plataforma de cinco
sindicatos, que não integra.O acordo prevê
um aumento salarial de cerca de 20% até 2027, que começará a ser pago
em novembro deste ano, mas, no entender de José Carlos Martins, trata-se
de um “negócio que nem o melhor feirante faria”.“O
Ministério da Saúde deve um monte de dinheiro aos enfermeiros de
retroativos de 2018 a 2022, não os pagou e agora está a utilizar esse
dinheiro para financiar a valorização, ainda que insuficiente, aos
enfermeiros. É indigno, é inqualificável e não se faz”, justificou.De
bandeiras numa mão e chapéus-de-chuva na outra, os manifestantes
cantavam palavras de ordem como “Ministra, escuta, enfermeiros estão em
luta”.Carla Abrantes, enfermeira há 40
anos, decidiu passar assim o seu aniversário. “Pela defesa do Serviço
Nacional de Saúde (SNS) e pela valorização da nossa carreira de
enfermagem”, explicou à Lusa.Ao longo de
quatro décadas na profissão, diz ter sentido a desvalorização da
profissão e lamentou: “Muitas vezes somos aplaudidos, mas depois somos
desvalorizados no nosso trabalho, na nossa missão”.Foi
também esse sentimento que levou João Dias de Beja a Lisboa. Enfermeiro
há 28 anos, contou à Lusa que o seu salário só chega aos 1.200 euros,
um valor que considera inaceitável, tendo em conta o aumento do custo de
vida, mas sobretudo a especificidade da profissão.“Está
nas mãos do Governo acabar com esta luta dos enfermeiros. Enquanto não
nos respeitarem com uma carreira justa, com salários justos e com o
reconhecimento da penosidade desta profissão, naturalmente que estaremos
em luta”, afirmou.Enfermeiro
especialista, João Dias defende que melhores condições de trabalho
beneficiam todos os utentes do SNS e admite que é o gosto pela
enfermagem que o mantém na profissão. “Mas tem de haver o outro lado, da
valorização profissional e de uma carreira justa”, acrescenta.Na
concentração estiveram também o secretário-geral do PCP, Paulo
Raimundo, e a deputada do BE Marisa Matias, que manifestaram a sua
solidariedade para com os enfermeiros, concordando que estes
profissionais não têm de ficar à espera do Orçamento do Estado para
verem a sua carreira valorizada.“Havendo
folga orçamental, não é justificável que haja tantas reivindicações que
continuem à espera. É preciso fazer justiça e não apagar anos de
reivindicações de alguém que presta um serviço tão necessário e que
assegura o funcionamento do SNS”, disse Marisa Matias.O
líder do PCP alertou ainda que o SNS enfrenta “problemas gravíssimos” e
que, apesar da “resposta extraordinária que está a ser dada, fica muito
aquém do que era possível e desejável”, uma inevitabilidade com
profissionais exaustos, desrespeitados e desvalorizados.