Enfermeiros enviam carta aos açorianos lamentando greve que tentaram evitar
25 de set. de 2020, 12:54
— Lusa/AO Online
“A Direção Regional dos
Açores do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses lamenta e
antecipadamente pede desculpa a todos os açorianos, principalmente aos
utilizadores do Serviço Regional de Saúde, pelos transtornos que venham a
ser causados nos próximos dias 28 e 29 de setembro”, lê-se na carta
hoje divulgada.O Sindicato dos Enfermeiros
Portugueses nos Açores marcou uma paralisação para segunda e
terça-feira para reivindicar a contagem integral do tempo de serviço.Em
causa está a contagem do tempo de serviço para efeitos de progressão na
carreira e uma divergência entre o Governo açoriano e o sindicato sobre
o número de anos a contabilizar.“Não
queríamos esta greve, muito menos no atual contexto, mas não há outra
alternativa. Não nos podemos deixar maltratar”, disse o presidente da
direção regional dos Açores do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses,
Francisco Branco, em declarações à agência Lusa.Na
carta, assinada pelo dirigente sindical, o SEP sublinha que "não foi
fácil a decisão", mas "infelizmente, a postura da Secretária Regional da
Saúde, corroborada pelo Presidente do Governo, não deixa outra
alternativa a não ser a paralisação como forma de protesto e desagrado
face à discriminação com que têm tratado os enfermeiros". "Temos
perfeita consciência que nos tempos que correm, uma paralisação de
profissionais de saúde acarreta contratempos e ansiedades para todos os
que precisam de recorrer aos serviços de saúde", acrescenta a carta
aberta, onde o sindicato garante tudo ter feito para "evitar" a greve.O
Sindicato dos Enfermeiros Portugueses nos Açores lembra que as
"negociações" com o executivo estenderam-se "durante dois anos",
lamentando que "durante esse tempo nunca foi possível perceber a posição
nem a fundamentação do governo perante as questões colocadas"."Aliás,
em várias das reuniões foi perfeitamente percetível que quem
representava o governo não tinha aval político para decidir o que quer
que seja", aponta.A carta deixa "uma
síntese dos dois problemas fundamentais" que levam à paralisação para
que "todos" os açorianos "percebam" os motivos da greve.Segundo
o sindicato, "desde 2007 que os três hospitais da região só admitem ao
serviço enfermeiros em Contrato Individual de Trabalho e os enfermeiros
que na altura não tinham 3 anos de casa passaram também para contrato
privado", mas estes profissionais, "face ao contexto que se desencadeou
(crise económica e congelamento dos salários), nunca deixaram de vencer
pelo escalão remuneratório mais baixo da carreira de enfermagem". "Chegado
o momento em que a Lei do Orçamento do Estado de 2018 descongela as
carreiras e permite considerar o tempo congelado para efeitos de
desenvolvimento salarial, o Governo Regional decide que todo o tempo de
serviço destes enfermeiros anterior a 2019, não será considerado para
enquadrar o seu vencimento", explica a carta.Francisco
Branco especificou à Lusa que, nalguns casos, aquela decisão "anula", e
"apaga da vida dos enfermeiros, 15 anos de serviço e coloca estes
colegas a ganhar o mesmo que quem entra para a profissão em 2020".O
sindicato alega ainda que dois terços dos enfermeiros da função pública
correm o risco de perder cinco anos de serviço para efeitos de
progressão na carreira, porque o executivo açoriano só admite
contabilizar o tempo a partir de 2014 para quem teve valorizações
salariais em 2013."Apesar do congelamento
nacional, Carlos César (antigo presidente do Governo regional
socialista) no seu último mandato repôs o tempo de serviço 2004/2008 aos
funcionários públicos da administração regional. Sem qualquer
fundamentação o Governo Regional decide que para estes enfermeiros só
será considerado o tempo de serviço a partir de 2014, e não a partir de
2011, como manda a Lei, resultando na diminuição de uma posição
remuneratória para o resto das suas vidas profissionais", aponta a
carta. Com eleições legislativas regionais
em 25 de outubro, e estando o mandato do atual executivo regional "a
acabar", o sindicato diz que "perante tamanha desfaçatez não podem os
enfermeiros ficar indiferentes e deixar que este Governo desvalorize o
valor económico do trabalho" daqueles profissionais."Por
tudo isto, qualquer constrangimento ou desconforto que possa ocorrer
durante a greve, devem os cidadãos imputar a responsabilidade, em
primeira mão à Secretária Regional da Saúde, bem como ao Presidente do
Governo Regional", sublinha a carta.