Enfermeiros dos Açores anunciam duas greves pela contagem do tempo de serviço
8 de set. de 2020, 05:48
— Lusa/AO Online
“Provavelmente,
vamos desencadear uma greve, cujos contornos terão de ser decididos
pela direção, durante este mês de setembro e uma segunda greve, se não
houver abertura do Governo para continuarmos a conversar, durante o mês
de outubro”, avançou o presidente da direção regional dos Açores do
Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, Francisco Branco, numa
conferência de imprensa, em Angra do Heroísmo.Em
causa está a contagem do tempo de serviço para efeitos de progressão na
carreira e uma divergência entre o executivo açoriano e o sindicato
sobre o número de anos a contabilizar.Há
mais de um ano que o sindicato está em negociações com a tutela da Saúde
e, em julho, pediu uma audiência com o presidente do Governo Regional,
alegando que “já não havia diálogo possível”, mas a resposta, que chegou
um mês e meio depois do encontro, não foi a que pretendiam.“Manteve
todas as decisões que a senhora secretária tinha mantido até então. Os
enfermeiros continuam no mesmo pé em que estavam”, frisou Francisco
Branco.Segundo o sindicalista, dois terços
dos enfermeiros da função pública correm o risco de perder cinco anos
de serviço para efeitos de progressão na carreira, porque o executivo
açoriano só admite contabilizar o tempo a partir de 2014 para quem teve
valorizações salariais em 2013.Francisco
Branco alega, no entanto, que a última valorização, com base na contagem
dos anos entre 2004 e 2008, devia ter ocorrido em 2011 e não em 2013,
responsabilizando o Governo Regional pelo atraso na aplicação.“Para
nós, não há nenhuma razão para que só se conte a partir de 2014, porque
o que aconteceu em 2013 diz respeito a um tempo anterior e não tem nada
a ver com este descongelamento agora. Parece que estão a fazer um
ajuste de contas com os enfermeiros, por uma coisa que na altura nunca
concordaram”, sublinhou.O presidente do
SEP nos Açores defendeu que a decisão do Governo Regional “não tem uma
única linha de argumento legal” e admitiu reivindicar a contagem do
tempo de serviço em tribunal.“Relativamente
aos colegas a quem o Governo não apresenta argumentação válida nenhuma
para contar o tempo só a partir de 2014, a solução que sobra é ir para o
tribunal administrativo. Lamentamos que assim seja, mas o Governo não
nos dá outra alternativa”, frisou.O
sindicato reivindica, por outro lado, a contagem do tempo de serviço dos
enfermeiros com contrato individual de trabalho, que só em 2019
assinaram um acordo coletivo de trabalho e que, por isso, só a partir
dessa data verão o tempo contabilizado.Desde
2007, que os hospitais da região só admitem enfermeiros com contrato
individual de trabalho, mas, pelas contas do sindicato, quem entrou
nesse ano, só em 2025, na melhor das hipóteses, subirá de posição
remuneratória.“Pôr um enfermeiro que entra
hoje ou que entra para o ano com o mesmo nível salarial daquele que
trabalha há 15 ou 16 anos é de uma desonestidade que não tem
qualificação”, sublinhou Francisco Branco, acrescentado que, em alguns
hospitais, metade dos enfermeiros entraram depois de 2007.O
sindicalista criticou ainda o atraso na atualização dos vencimentos
para os enfermeiros em condições de progredir na carreira, prevista
desde 2018.“A informação que tínhamos era
de que este mês seria processado o vencimento já atualizado. O que os
recursos humanos nos dizem é que ainda não receberam nenhuma indicação
da Secretaria Regional da Saúde”, apontou.Além das greves e da ação em tribunal, os enfermeiros vão protestar nas ruas, para chamar à atenção da população.Esta
sexta-feira, às 16h00 está prevista uma manifestação
em caravana automóvel em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, e a ação
deverá ser replicada, nas próximas semanas, nas ilhas Terceira e Faial.A contestação surge a menos de dois meses das eleições legislativas regionais nos Açores, marcadas para o dia 25 de outubro.