Enfermeiros dos Açores admitem recorrer aos tribunais para exigir contagem de tempo
2 de dez. de 2019, 16:40
— LUSA/AO Online
“As orientações foram à revelia daquilo que
são as questões legais e logicamente vamos reagir. Não aceitamos que a
questão da contagem do tempo para os enfermeiros com vínculo público
seja prejudicial a este ponto”, afirmou o coordenador regional do SEP,
Francisco Branco, acrescentando que o sindicato vai “avaliar a hipótese
de jurídica ou contenciosamente recorrer” da decisão. O
dirigente sindical falava, em Angra do Heroísmo, à margem de uma
reunião com a secretária regional da Saúde dos Açores, Teresa Machado
Luciano.Há vários meses que sindicato e
tutela negociavam a contabilização do tempo de serviço dos enfermeiros
com contrato de trabalho em funções públicas, mas, apesar do diferendo
entre as duas partes, o executivo açoriano emitiu na semana passada uma
circular com as regras de contagem.Entre
2004 e 2008 houve um descongelamento de carreiras nos Açores, que
resultou numa valorização remuneratória, atribuída em 2014. A
tutela entende, por isso, que o tempo de serviço só pode ser
contabilizado a partir desse ano, mas o sindicato alega que essa
valorização deveria ter sido atribuída em 2011 e que foi o executivo
açoriano à época que arrastou o processo.“Dois
terços dos enfermeiros dos Açores, à volta de 850 enfermeiros, vão
perder definitivamente, nos termos das orientações dadas, cinco anos de
tempo de serviço. Isso é inadmissível e contrário à lei”, salientou
Francisco Branco, referindo-se ao período entre 2009 e 2014, já que a
última contabilização foi apenas até 2008.Na
prática, a decisão atrasa em três anos a valorização remuneratória dos
enfermeiros em funções públicas, segundo o sindicalista. “Se
fosse contado o tempo pelo entendimento correto e legal que nós
entendemos, os enfermeiros da função pública no dia 01 de janeiro de
2018 teriam tido uma mudança de posição remuneratória. A posição da
senhora secretária atira para 2021 uma mudança de posição
remuneratória”, frisou.Teresa Machado
Luciano disse, no entanto, que a reunião “correu bem, dentro da
expectativa”, salientando que a posição do executivo já tinha sido
assumida em setembro. “[A] todos os
enfermeiros que ainda não tiveram revalorização remuneratória será
contado todo o tempo de serviço. [A] todos os que já tiveram será
contado a partir de 2014”, sublinhou.Questionada
pelos jornalistas, a secretária regional da Saúde desvalorizou a
possibilidade de contestação por parte dos enfermeiros.“Acredito que os enfermeiros estarão connosco nesta situação e que as coisas serão normais”, apontou.“O
sindicato foi daqui satisfeito com a novidade de que o despacho
conjunto relativamente ao suplemento dos enfermeiros especialistas, que
abarcava 288 enfermeiros, está a ser revisto, de modo a contemplar mais
enfermeiros”, acrescentou. Quanto aos
enfermeiros com contrato individual de trabalho nos três hospitais da
região (Ponta Delgada, Angra do Heroísmo e Horta), ainda não têm regras
definidas sobre a contagem do tempo de serviço.“Estávamos
a contar que houvesse de facto um avanço no sentido da decisão dos
critérios de como será contado o tempo. Ainda não há. Há um compromisso
de durante este mês voltarmos à mesa para conversarmos”, avançou o
coordenador regional do SEP.Segundo
Francisco Branco, existem nos Açores entre 550 e 600 enfermeiros com
contrato individual de trabalho, mas apenas cerca de metade terá
condições para progredir na carreira (10 pontos), em breve.Há
enfermeiros com contrato individual de trabalho e avaliações desde
2007, mas só em 2013 foi criada uma grelha remuneratória para estes
profissionais, igual à aplicada aos da função pública.“O
justo seria contar o tempo a 2007, mas faltava uma das componentes, que
era a grelha, portanto o correto, na nossa posição, é que o tempo conte
a partir de 2013. Isto faz com que na prática ninguém tenha em 2018 os
10 pontos para mudar de posição remuneratória, mas em 2020 provavelmente
estariam em condições de mudar uma posição remuneratória”, apontou o
sindicalista.Sobre esta matéria, Teresa Machado Luciano deixou o compromisso de voltar às negociações com o sindicato “antes do Natal”.