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Enfermeiros apresentam projetos para HDES e USISM

O II Congresso de Enfermagem dos Açores possibilitou aos profissionais de saúde da Região apresentarem projetos que procuram dar melhores condições aos utentes, bem como atuar na prevenção das doenças. O Açoriano Oriental dá-lhe a conhecer três das iniciativas, algumas já em marcha.


Autor: Nuno Martins Neves

Centro de Parto Normal
Dar à luz é um momento único na vida de um casal e poder fazê-lo como idealizou é cada vez mais uma vontade e um direito que os futuros pais querem ver concretizados.

Épara dar resposta a isto que Isabel Veiga, enfermeira obstetra, especialista em saúde materna e obstetra, a trabalhar no Bloco de Partos do Hospital do Divino Espírito Santo (HDES), idealizou o Centro de Parto Normal.

Destinado apenas a partos de baixo risco, levados a cabo por enfermeiras obstetras, este projeto - que já tem o aval do conselho de Administração do HDES e está previsto no hospital de futuro que irá nascer- pretende possibilitar um parto “mais natural, fisiológico e humanizado”, explica.

“É um espaço, agregado ao hospital, onde os casais podem ter tudo o que pretendem, como se tivessem em casa, mas dentro do hospital: musicoterapia, mobilidade no trabalho de parto, duche, banho. E ter um parto na posição que lhe seja mais confortável”.

Para a profissional de saúde, o Centro de Parto Normal não só trará vantagens para o casal, pois ao ir ao encontro das suas expectativas terá um “impacto muito positivo” ao nível da saúde da criança, como também permitirá reduzir o “elevado número de cesarianas” que o HDES regista atualmente, e os partos distócicos (uma situação em que há dificuldades durante o parto, impedindo a progressão normal do mesmo, sendo necessário recorrer a instrumentos ou cesariana), o que terá tradução ao nível dos custos hospitalares.

Em termos de desafios para que o Centro se torne uma realidade, Isabel Veiga aponta os recursos humanos - a sua equipa tem apenas 17 dos 19 enfermeiros no ativo - reconhecendo que “a mudança causa sempre algum constrangimento”. Mas assinala que na equipa  há elementos que são adeptos desta forma de atuar.

Projeto MAR
Melhorar a acessibilidade à reabilitação respiratória é o objetivo primordial do projeto liderado por Maria Elisabete Lima. Aenfermeira coordenadora da equipa de reabilitação respiratória da Unidade de Saúde da Ilha de São Miguel (USISM) explicou como atender em ambulatório utentes com Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC), do Grupo B, poderá ajudar a melhorar a sua saúde, reduzindo os custos hospitalares ao evitar-se o internamento.

O projeto MAR“diz respeito à abertura da primeira unidade de reabilitação respiratória em ambulatório, nos cuidados de saúde primários de São Miguel. A nossa equipa de enfermeiros especialistas em reabilitação presta cuidados de reabilitação respiratória ao domicílio, mas sentiu necessidade de abrir um ambulatório no Centro de Saúde onde os utentes se desloquem para fazer os seus tratamentos. Esta unidade servirá para os utentes que não tem critérios para ser acompanhados nos domicílios, bem como acompanhar doentes com DPOC, do grupo B”.

Segundo Maria Elisabete Lima, os ganhos de um tratamento em ambulatório são significativos, pois permitirá, através de programas de treino e exercício físico e de força, reduzir a falta de ar dos utentes, melhorar a sua capacidade funcional “e a sua capacidade de realizar atividades básicas do dia a dia, como andar ou comer.

“No fundo, estes utentes faltam ao trabalho por não terem saúde, recorrem às unidades de saúde porque estão com a sua situação agudizada e o objetivo é que estabilizem a sua doença, que recorram menos a consultas não programadas, e que de certa forma melhorem a sua qualidade de vida”.

Tendo a equipa atendido, no domicílio, mais de uma centena de pacientes, Maria Elisabete Lima dá como exemplo o que tem sido alcançado com os tratamentos em casa: “50% dos utentes que acompanhamos não são reinternados. e isto significa poupança para o Serviço Regional de Saúde”.

Entre o sonho e a realidade está a falta de espaço: o projeto encontra-se em fase de planeamento, aguardando a disponibilidade de uma sala na USISM.

Equilibra/mente
Responder aos problemas de saúde mental que afetam os enfermeiros é o mote para o projeto de Luís Ferreira, enfermeiro especialista em Saúde Mental do HDES.

A génese do Equilibra/mente partiu dos dois estudos, realizados durante a pandemia da Covid-19, que avaliaram os níveis de burn-out, ansiedade, depressão e stress vividos pelos enfermeiros do hospital.

“Este projeto-piloto surge de uma necessidade identificada na instituição, e pretende empoderar as equipas de enfermagem de estratégias promotoras de saúde mental, nas suas atividades do dia a dia, prevenindo complicações de saúde mental ao longo prazo”.

Feito em parceria com o Serviço de Psicologia, o Serviço de Saúde Ocupacional e os enfermeiros especialistas em Saúde Mental e Psiquiatria da instituição, o projeto prevê a realização de 10 sessões ao longo de um ano, tendo a primeira decorrido em abril passado. “Em cada sessão vai dar resposta a uma problemática identificada pelo serviço. Os colegas vão de forma voluntária e de acordo com o que identificam, é que fazemos a ação”, explica.

Reduzir o burnout, o stress laboral, a ansiedade e a depressão nos trabalhadores, fazendo com que a taxa de absentismo reduza, aumentando a satisfação no trabalho são os objetivos assumidos, diz Luís Ferreira.

Questionado se os profissionais de saúde estão abertos a falar da sua saúde mental, o responsável pelo Equilibra/mente afirma que “os enfermeiros têm uma grande necessidade de falar, de abordar aquilo que passaram, com um objetivo de melhorarem, sem serem julgados. Este é um meio terapêutico, neutro, onde as pessoas podem expressar aquilo que viverem, como percecionaram, sem julgamento posterior à intervenção que está a ser feita”.

Consoante os resultados finais - será avaliado os indicadores dos níveis de ansiedade e depressão, bem como dos riscos psicossociais - o projeto-piloto poderá ser alargado ao resto da instituição e ao resto dos profissionais de saúde.