Endividamento a crescer ao ritmo dos últimos tempos “será um problema sério”
22 de nov. de 2021, 11:01
— Paulo Faustino
O presidente do Conselho Económico e Social dos Açores (CESA) alerta que
o endividamento da Região “a crescer ao ritmo que temos tido nos
últimos tempos, a prazo, será um problema sério”.Gualter Furtado
considera que o peso dos juros da dívida pública e das rendas refletidos
no orçamento regional “começa a ser pesado”, isto numa conjuntura que é
“muito favorável” em termos de taxas de juro das operações ativas, mas
que, “a alterar-se, passaria a ser um problema considerável”.“O
crescente endividamento na Região Autónoma dos Açores resulta da
incapacidade do modelo económico e social que temos nos Açores de se
auto sustentar, isto é evidente, e está demonstrado pelo peso estrutural
das fontes de financiamento externas a que temos recorrido e vamos
continuar a recorrer”, vinca o presidente do CESA em declarações ao
Açoriano Oriental.De igual modo, o antigo Secretário Regional das
Finanças entende que o peso das funções sociais que o governo financia,
“e de que nos queixamos tantas vezes ser insuficiente”, não está a
permitir a chegada de recursos a setores da inovação e produtivos no
arquipélago. E, a seu ver, isso faz com que “caíamos num círculo vicioso
de um modelo que perpetua a dependência e não erradica a pobreza”. Gualter
Furtado contribuiu, na década de noventa, para a elaboração da primeira
Lei das Finanças das Regiões Autónomas, lei essa que, recorde-se,
aquando da sua execução, reduziu quase a zero o endividamento dos
Açores. Tal foi possível devido a um quadro de “solidariedade ativa” do
Governo da República, o qual o economista “gostaria de ver repetido”,
mas sabe que “não é fácil”.Perante a situação exposta, o presidente
do Conselho Económico e Social dos Açores faz um apelo: “Temos de parar
para pensar em termos de sustentabilidade”. Se esta reflexão não for
feita, Gualter Furtado não tem dúvidas que “só nos resta cair na
armadilha do endividamento e da perpetuação da dependência, mesmo que em
termos de economia de bem-estar estejamos num patamar nunca antes
alcançado, mas que a prazo é insustentável”.