Encontros Sonoros Atlânticos Francisco de Lacerda levam cartaz eclético a Lisboa e aos Açores
19 de jul. de 2024, 12:11
— Lusa/AO Online
“No fundo, é como
se este festival fosse uma celebração da diversidade e do ecletismo da
música portuguesa. Combinamos música contemporânea com cantautores, com
propostas multimédia e, no fundo, o que eu quero, como programador, é
que este festival seja uma montra de visões muito particulares e muito
especiais de artistas nos seus diferentes estilos”, adiantou, em
declarações à agência Lusa, o compositor Vasco Mendonça, responsável
pela programação.O festival, organizado
pela Associação Francisco de Lacerda – a Música e o Mundo, passa por
sítios tão distintos como o Panteão Nacional, em Lisboa, ou as ruínas da
casa do compositor açoriano, na ilha de São Jorge.Os
públicos são “muito diferentes” e, “lentamente, mas de uma forma
segura”, a organização acredita que os encontros têm vindo a
implantar-se na agenda anual dos lugares.“As
pessoas fazem quase três quartos de hora a pé para irem ao concerto da
Fajã da Fragueira [São Jorge], verem um concerto ao ar livre, em
condições absolutamente naturais. É um concerto essencialmente para a
comunidade local e temos vindo a ter uma receção fantástica”, revelou o
programador.Ainda nos Açores, mas na ilha de São Miguel, o espetáculo é dirigido a um público diferente.“E
depois temos, por exemplo, o concerto no centro Arquipélago, em que é
um público mais jovem, mais urbano, mais interessado em artes plásticas,
em arte contemporânea. Esse também tem respondido muito bem”, avançou
Vasco Mendonça.O festival parte do legado
de Francisco de Lacerda (1869-1934), “um compositor absolutamente
fundamental da história da música portuguesa”, com “uma carreira
internacional única”, mas que “ainda não tem a divulgação que devia
ter”, afirma Vasco Mendonça, numa alusão ao percurso internacional do
compositor e regente, que dirigiu as grandes orquestras da época, em
França e na Suíça, lecionou em Paris e dirigiu os concertos La Baule, os
Grandes Concertos de Marselha e a Academia dos Concertos de Nantes.“Ele
tem uma ligação muito forte à sua terra de origem, aos Açores, mas
depois tem uma componente cosmopolita. E, num certo sentido, é assim que
eu também vejo o que a música portuguesa pode ser. Podemos partir do
nosso território, celebrar o que temos de maravilhoso, mas devemos ter
ambição para combinarmos esta dimensão local com uma dimensão
cosmopolita", salientou o programador.Os
Encontros Sonoros Atlânticos arrancam no dia 14 de setembro no Panteão
Nacional, em Lisboa, com um concerto da soprano portuguesa Camila
Mandillo, acompanhada pelo quarteto de violoncelos Chiado.“É
uma espécie de celebração de Camões, em que temos vários compositores
que escreveram música a partir de Camões, desde Croner Vasconcelos, na
primeira metade do século XX, até Amélia Muge”, explicou Vasco Mendonça.O
festival segue para a ilha de São Jorge, no dia 17, estando previsto,
pela primeira vez, um ‘workshop’ para bandas filarmónicas locais, que
pretende “aprofundar a ligação à comunidade artística local”.No
dia 18, há um concerto nas ruínas da casa onde viveu Francisco de
Lacerda, “um local muito especial ao pé do mar, na Fajã da Fragueira”,
onde Pedro Branco e João Neves apresentam música de cantautores
portugueses.Os Encontros rumam à ilha
Terceira, no dia 20, para um concerto do Maat Saxophone Quartet, um
grupo português baseado em Amesterdão, “que vai estrear uma peça
encomendada pelo festival à compositora Fátima Fonte”, no Monte Brasil.A
rubrica “Carta Branca”, criada há dois anos, para “propostas mais
invulgares e arrojadas, com uma componente multimédia”, leva ao
Arquipélago Centro de Artes Contemporâneas, na ilha de São Miguel, Nuno
Costa e Óscar Graça, que vão criar uma banda sonora especial para o
filme “Flores”, de Jorge Jácome.O festival
encerra, no dia 28, com a Orquestra Metropolitana de Lisboa, na
Biblioteca Nacional de Portugal, com a estreia da peça vencedora do
Prémio de Composição Francisco Lacerda.Aberto
não só a compositores jovens, mas de todas as idades, o prémio,
financiado pela Fundação Millennium BCP, atribui um valor de 7.500 euros
ao vencedor e é, segundo Vasco Mendonça, “fundamental para estimular a
criação nacional”.“É um dos prémios mais
elevados em valor a nível europeu. Conseguimos fazer um prémio com
condições muito especiais, temos um júri internacional, temos um prémio
forte pecuniário e temos a estreia por uma orquestra profissional da
peça”, frisou.O compositor defendeu que
“ser um criador de música em Portugal é uma tarefa árdua”, alegando que o
país ainda tem “uma dotação para a Cultura absolutamente
insignificante, comparada com outros países”.“A
criação nacional está de ótima saúde, se falarmos do talento que temos,
da criatividade e da qualidade das pessoas a compor e escrever música
em Portugal. Está bastante mal, se pensarmos no tipo de apoio e
estruturas que temos para manter esse talento e para potenciar esse
talento”, alertou.