Empresas podem ficar sem acesso a matérias-primas devido a greve nos portos
23 de dez. de 2022, 11:41
— Lusa/AO Online
“Face aos mais
de 10 dias de greve anunciados, a IACA estima que as empresas ficarão
sem acesso a matérias-primas que garantam a continuidade da produção”,
notou em comunicado a associação, sublinhando que pode mesmo
verificar-se uma rotura nos ‘stocks’ a disponibilizar aos produtores
pecuários.O Sindicato Nacional dos
Trabalhadores das Administrações Portuárias (SNTAP) convocou uma greve
de vários dias, que começa hoje e se prolonga até 30 de janeiro e
abrange os portos do continente, Madeira e Açores.O
sindicato acusa as administrações portuárias de “ausência total de
disponibilidade” para dialogar sobre a proposta de revisão salarial para
2023, tendo o SNTAP feito “vários pedidos de reunião” que ficaram sem
resposta, “nomeadamente por parte das administrações de Sines e de
Lisboa”.De acordo com a IACA, a greve nos
portos deixa oito navios de matérias-primas para alimentação animal com
atrasos nas descargas, podendo os custos adicionais para as importadoras
ascender a dois milhões de euros até janeiro, agravando o preço dos
alimentos. A sobre-estadia dos barcos pode
levar os custos das empresas importadoras a ultrapassar um milhão de
euros até ao final do mês, valor que pode duplicar em janeiro. Neste
sentido, a IACA está preocupada com a repercussão destes custos no
preço das matérias-primas para a produção de rações de animais. A
associação referiu que, em Portugal, as empresas produtoras de
alimentos compostos para animais têm uma dependência de matérias-primas
importadas de 80% e uma capacidade de armazenamento de cerca de cinco
dias.“Prevê-se que um dos portos mais
afetados seja o da Trafaria, por onde passam as principais
matérias-primas usadas na produção de rações para animais”, referiu,
sublinhando que cerca de 60% do milho e 50% da soja utilizada na
produção de rações entra em Portugal através do porto da Trafaria.Citado
no mesmo documento, o secretário-geral da IACA, Jaime Piçarra, lamentou
que não tenham sido previstos serviços mínimos, apesar das preocupações
enviadas ao executivo.Para a IACA, “a
inação do Estado” pode criar problemas a esta indústria, bem como
colocar em causa a disponibilidade de carne, leite e ovos.“As
empresas já estão tão sobrecarregadas de custos inflacionados que,
naturalmente, vão repercutir este novo custo na cadeia de valor,
situação que, inevitavelmente, vai chegar ao consumidor”, disse Jaime
Piçarra, acrescentando que o setor não prevê “o melhor para o início do
ano”.