Emprego
Empresas de construção já despedem em São Miguel
Empresários reagem com prudência à conjuntura desfavorável gerada pela crise, não renovando contratos e, nalguns casos, despedindo trabalhadores. AICOPA pede ajuda ao Governo através de orçamento com obras públicas

Autor: Paulo Faustino
Há empresas de construção em São Miguel que não estão a renovar contratos com os seus trabalhadores e, nalguns casos, estão mesmo a despedi-los para fazer face às consequências da crise e pelo abrandamento nos concursos destinados a obras públicas.
Quem o diz é o presidente da Associação dos Industriais de Construção Civil e Obras Públicas dos Açores (AICOPA), Albano Furtado, que espera que o orçamento regional do próximo ano contenha medidas de apoio para as empresas com maiores dificuldades ligadas ao sector. “Considerando a situação grave da crise que vivemos e que se ouve falar todos os dias em termos da situação económico-financeira, é natural que algumas empresas não estejam a renovar contratos e que haja alguns despedimentos”, reconheceu Albano Furtado ao Açoriano Oriental. Na actual conjuntura desfavorável, sobretudo no plano nacional e internacional, o sentimento que reina entre os empreiteiros açorianos é de prudência em relação aos efeitos da crise. Isso faz com que sejam mais restritivos na contratação de pessoal, mas também se mantenham na expectativa de que o Governo lhes contemplará ajudas no orçamento regional.
Para já, os sinais que vêm de dentro dos Açores não são nada animadores. Ontem, a Edifer confirmou a rescisão de contrato com dezanove trabalhadores na Terceira, como forma de ajustar a sua estrutura na ilha à carteira de obras. Mas, de acordo com informações avançadas pela Antena 1 Açores, esse número eleva-se para 140 com as dispensas de funcionários noutras  empresas.
As dificuldades são algo, segundo Albano Furtado, transversal a todas as empresas. “Uns com os outros, conversamos e dizemos que não estamos numa situação de estar a admitir pessoal, por exemplo. Estamos numa situação, sim, de sermos prudentes, de não haver renovação de contratos e de aguardar medidas que nos apoiem”, sublinha. O desejo dos empreiteiros é que o próximo orçamento regional tenha uma componente de obras públicas significativamente mais elevada do que o anterior. O objectivo é claro e pragmático: “para que a quebra na iniciativa privada devido à incerteza em que passámos a viver, seja compensada de algum modo com a obra pública, à semelhança do que se está a fazer noutros países e no continente”. Os empresários da construção estão a agir de acordo com o contexto desfavorável da crise, ou seja, a cortar nas despesas e no recrutamento de pessoal. Mas só isso não chega e é por isso que reclamam o desagravamento das condições em que os bancos operam no mercado e a mão menos ‘pesada’ do Fisco.
Os despedimentos na construção atingem de forma particular quem se encontra em circunstâncias precárias. A experiência de Albano Furtado diz que, “quando há economia paralela, os despedimentos atingem principal e primeiramente aqueles que estão em ilegalidade, e que ainda existem”. O resultado é que, como vaticina, os números que serão divulgados em breve pelo Serviço Regional de Estatística “não reflictam a verdadeira dimensão de algum desemprego que passa a haver”. Os meses que antecederam as Eleições Regionais foram mais abundantes em termos de concursos para obras públicas. Na ressaca do acto eleitoral, os grandes projectos não mexem e a construção civil ressente-se. Mas já estava à espera. Para mais com a entrada em vigor do novo decreto da contratação pública que fez com que o Estado, as autarquias e os privados “pusessem os seus concursos todos cá fora bastante rapidamente e agora não estejam a sair concursos”.
Na próxima Feira da Construção, um dos temas em debate será a situação económica e financeira e os seus reflexos no sector.


Cada vez mais pessoas à procura de trabalho
O gerente da Sociedade Técnica Açoreana (STAL) confirma o cenário de dificuldades no sector da construção, revelando que, cada vez mais, aparecem na empresa indivíduos à procura de trabalho. “Isso normalmente indicia que o trabalho está a faltar noutros lados e as pessoas vão procurando” alternativas para a sua subsistência e das suas famílias, diz Humberto Sampaio. Batem à porta da STAL a pedir emprego, mas não têm grande sorte, porque a empresa, nesta fase, “não está a contratar ninguém”. Aliás, não está  contratar, nem a despedir e o responsável não exclui a possibilidade de “aliviar alguma carga de pessoal, se a situação de abrandamento se mantiver um ano ou dois”. À sua maneira, as empresas vão tentando contornar o abrandamento, trabalhando cada vez mais na promoção própria para colocar no mercado mais habitação e espaços comerciais e o que for “possível fazer fora do âmbito das obras públi