Empresários, sindicato e lavoura apelam à retoma do consumo nos Açores
Covid-19
21 de mai. de 2020, 16:01
— Lusa/AO Online
“É impossível a economia retomar se
continuarmos com este clima de pânico e de medo que foi instalado na
sociedade em geral e confinados à nossa casa e à nossa família. Não é
essa a sociedade que nós criámos e que pretendemos para o futuro. Há que
dar um passo em frente”, afirmou aos jornalistas o presidente da Câmara
de Comércio e Indústria dos Açores, Rodrigo Rodrigues.Acompanhado
pelo dirigente da UGT/Açores, Francisco Pimentel, e pelo
vice-presidente da Federação Agrícola dos Açores, José António Azevedo,
Rodrigo Rodrigues almoçou hoje num pequeno restaurante em Angra do
Heroísmo, na ilha Terceira, para “desmistificar algum receio e alguma
falta de confiança” que ainda existe sobre a retoma da restauração.“Todos
os restaurantes que estão abertos implementaram as medidas que foram
recomendadas e os clientes estão a fazer o mesmo, portanto, hoje em dia
temos de admitir que é perfeitamente seguro vir à restauração, virmos
jantar fora com a família e com as pessoas mais chegadas, são essas as
recomendações”, afiançou.A reabertura do
comércio e da restauração está a ser feita de forma faseada nos Açores,
tendo começado pelas ilhas sem registo de qualquer caso de Covid-19
(Santa Maria, Flores e Corvo), no dia 6 de maio.Nesse
dia abriu também o comércio nas ilhas Terceira, Pico, Faial e São
Jorge, que só retomaram as atividades de restauração no dia 13.Na
ilha Graciosa, o comércio já está de portas abertas desde o dia 17, mas
os restaurantes só reabrem no dia 25 e, na ilha de São Miguel, as
reaberturas estão previstas para dias 22 (comércio) e 29 (restauração).Segundo
Rodrigo Rodrigues, o arranque está a ser “um pouco lento”, mas a
sociedade tem de ultrapassar o medo, até porque em seis das nove ilhas
do arquipélago não há atualmente casos positivos ativos.“Agora
é preciso desconfinar, é preciso que a economia funcione, que a
sociedade acredite e que o turismo também dê o seu contributo que já
dava para a nossa economia, que representava cerca de 12% do nosso
produto interno”, sublinhou, defendendo uma aposta inicial no turismo
interno.O representante dos empresários
admitiu que alguns negócios “não sobreviveram” às quebras provocadas
pela pandemia da covid-19 e que os restantes estão “anestesiados” pelas
medidas de apoio dos executivos nacional e regional, alegando que a
economia não se pode “manter confinada durante vários meses”.“Foram
dois meses com faturação zero e, neste momento, já percebemos que o mês
de maio vai ser um mês de retoma um pouco lenta. Pretendemos é atenuar
essa questão, trazer a nossa sociedade novamente à sua vida normal”,
apontou.O dirigente da UGT, Francisco
Pimentel, teme que o adiamento da retoma possa provocar uma “crise
económica e social com contornos insustentáveis”.“Aqui
nos Açores faz particular sentido aderirmos a esta onda no sentido da
confiança, passarmos do discurso do medo para o discurso da coragem
política, com cautela, com segurança, mas apelando a que as pessoas
retomem a normalidade e a confiança na sua economia, nos seus
trabalhadores, na atividade produtiva. Não o fazendo, estamos a criar
uma nova pandemia com consequências tremendas”, frisou.Admitindo
que há um “receio natural” no regresso ao trabalho, o sindicalista
defendeu a “urgência” da retoma da economia, alegando que há estudos de
economistas que apontam para a perda de “2.000 postos de trabalho” nos
Açores, a cada mês que passa sem desconfinamento.“Cada dia que passa, cada mês que passa, corremos o risco de termos o desemprego e a pobreza à nossa porta”, alertou.A
agricultura foi um dos setores que manteve atividade durante a
pandemia, mas os produtores também foram afetados, sobretudo devido à
redução das vendas para o mercado nacional, já que apenas 14% da carne e
12% dos laticínios produzidos são consumidos internamente.“Nós
continuamos a produzir, mas em termos de consumo há uma retração. Há
perda de rendimentos, principalmente na carne houve uma grande quebra no
preço pago ao produtor”, salientou José António Azevedo,
vice-presidente da Federação Agrícola dos Açores.O
representante dos agricultores apelou também à retoma da economia,
sublinhando que esta crise é “transversal a todos os setores” e que
“todos os setores têm de estar unidos”.“A
máquina tem de começar a voltar a andar e tem de se dar um grande
impulso à economia, para que possamos pôr a economia a circular e voltar
à normalidade, para que todas as empresas tenham o volume de negócios
que tinham antes da pandemia”, reforçou.