Empresários portugueses prontos para abandonarem a Catalunha
10 de out. de 2017, 11:30
— Lusa/AO online
"Para o negócio é mau e vou-me embora
daqui logo de seguida. Já tenho tudo preparado", revelou à agência Lusa
Ricardo Paulo, dono de uma empresa de importação e distribuição para
toda a Espanha de vinhos e produtos 'gourmet' portugueses. Ricardo Paulo já foi ao notário mudar a sede social e fiscal da sua empresa para fora da Catalunha
e se a situação piorar está pronto também para mudar a localização do
armazém e fechar a loja e o restaurante que tem em Barcelona. "Os
poucos valores que tenho já estão em Portugal e, assim como eu, os
espanhóis e os catalães já meteram o dinheiro a salvo, fora da Catalunha", assegura o empresário português. O
presidente do Governo regional catalão, Carle Puigdemont, deverá ainda
hoje declarar a independência da região e ainda não é claro o que pode
acontecer em seguida. A situação de grande incerteza tem levado,
nos últimos dias, as grandes empresas, principalmente as cotadas na
bolsa de valores, a mudar a sua sede social para outras regiões de
Espanha. As empresas mais pequenas, que também não se podem dar
ao luxo de ficar numa região que deixa de pertencer à União Europeia,
estão a tomar medidas idênticas. "No caso em que se declarasse a
independência, eu, apesar de ser um pequeno empresário, não teria
alternativa e teria de trocar a sede social das duas empresas em que sou
diretor-geral para fora da Catalunha", garante um outro empresário português no mesmo setor, Rui Fernandes, há 14 anos a viver em Barcelona. Mesmo assim, Rui Fernandes está otimista e pensa que "há muita histeria" que é transmitida pelos órgãos de comunicação social. Os
dois empresários estão também muito preocupados com a "rutura social"
que a caminhada dos separatistas em direção à independência está
provocar na sociedade catalã. "Entre amigos não se tocam
determinados temas. É como um tabu. Não se fala de certas coisas para
ninguém se chatear", disse Ricardo Paulo, acrescentando que "as pessoas a
favor do 'não' à independência andam amedrontadas no meio da rua com
medo de expressar as suas opiniões". O Governo catalão sustentado
por uma maioria parlamentar que apoia a independência da região
organizou em 01 de outubro um referendo ilegal, muito polémico, em que
apenas 42% dos eleitores foram votar para decidir por esmagadora maioria
que desejam ser independentes de Espanha. A consulta foi boicotada pelos movimentos e partidos que não apoiam a separação da Catalunha
de Espanha, apesar de muitos deles também defenderem a realização de
uma consulta popular na região, mas feita de acordo com as regras
aceites por todos e não apenas de uma das partes. "Já saí de
metade dos grupos da [rede social] Whatsapp com amigos meus em
Barcelona, às vezes tenho discussões com a minha mulher [que é catalã],
discussões com a família sobre este tema", afirma Rui Fernandes,
concluindo que a divisão na sociedade catalã "vai demorar muitas décadas
a resolver, independentemente do que acontecer" a partir de agora. Há
cerca de 14.000 portugueses inscritos no consulado de Barcelona, no que
é uma comunidade considerada "de nível médio, alto", com muitos
licenciados e mestrados a trabalharem nos mais variados setores de
atividade.