A esplanada do restaurante Papadiamandis, na Fajã Grande, com vista para
as incontáveis cascatas das Flores não engana: o turismo voltou em
força àquela ilha do Grupo Ocidental, permitindo aos empresários
respirarem um pouco, depois de meses fechados. Um balão que não apaga o
prejuízo causado pela pandemia de Covid-19 mas que ainda assim superou
as expectativas de todos os agentes do setor, da restauração à
hotelaria, passando pelas atividades marítimo-turísticas.“Estivemos
sem faturar desde outubro de 2019 até julho deste ano. Foi difícil”,
expressou Ricardo Mendes, responsável pelo alojamento Sítio da Assumada,
às portas da Fajã Grande.As perspetivas de um ano ainda melhor que
2019 saíram furadas logo em março, quando começaram a cair os
cancelamentos. Abertos desde 1 de julho, mês em que sofreram uma quebra
de 60 por cento relativamente ao ano anterior, o espaço de turismo na
natureza começou a recuperar a partir da segunda quinzena, “devido ao
turismo açoriano”. Se em anos passados, os estrangeiros representavam 95
por cento da ocupação, este ano nem vê-los.“Felizmente, temos os
açorianos. Até ao dia 22 de setembro, estamos completamente cheios”,
remata. Mesmo tendo reduzido as tarifas em 30 por cento para atrair o
turismo regional, a realidade saiu “melhor que as nossas expectativas”.Situação
idêntica reporta Conceição Nunes, responsável máxima do Hotel Inatel,
em Santa Cruz das Flores. Comparando o verão de 2020 com o vivido há
quatro anos, a gerente assinala que a segunda semana de julho marcou uma
redobrada esperança. “Em julho, a ocupação chegou aos 80 por cento e
agora em agosto ultrapassou os 90”, refere. E uma ocupação diferente da
habitual: sem turismo da Alemanha, Bélgica, Holanda, foram os açorianos e
os continentais quem ficaram com as reservas. “Não era habitual. Penso
que o facto da nossa ilha ter tido poucos casos de Covid-19 - o único
positivo foi de um turista - teve influência na escolha do destino,
juntamente com o facto das Flores ser um local pequeno, sem grandes
aglomerações de pessoas e com uma natureza virgem”, explica, destacando
ainda a importância do programa Viver os Açores, lançado pelo Governo
Regional, para incentivar o turismo inter-ilhas.Um programa que,
para Carlos Mendes, da empresa de animação marítimo-turística
ExtremOcidente, tem permitido a muitos açorianos finalmente descobrir as
Flores. “Alguns estavam para vir mas nunca houve oportunidade. Estavam à
espera de uma ilha mais como a Graciosa e encontraram a ilha mais bela
dos Açores”.Para o skipper conhecido com Toste, este mês e meio foi
como um bote de salvamento para o ano de 2020. “Neste momento, estamos a
70 por cento em relação ao ano passado. A grande diferença é que não há
grupos de trekking e passaram a ser os açorianos. Preencheram o grande
vazio que se anunciava”, diz, esperando que o programa de incentivo ao
turismo inter-ilhas se mantenha pelo menos até 2021.Regressamos à
esplanada do Papadiamandis, onde Hélder Silva fala de um mês e meio que
veio “minorar algum prejuízo, mas não vai ser a mesma coisa”. Em lay-off
até meados de julho, o restaurante resistiu e em agosto teve uma
ocupação apenas 12 por cento menos do que há um ano. “Agora trabalhamos
com 8 funcionários, mas em 2019 cheguei a ter 12”, finaliza. Ilha das Flores recebeu 18 mil hóspedes no ano passadoÀ
semelhança do que sucedeu nos últimos cinco anos no arquipélago, o
turismo na ilha das Flores tem crescido paulatinamente desde 2015. No
último ano, e segundo os dados disponibilizados pelo Serviço Regional de
Estatística dos Açores, aquela ilha do Grupo Ocidental recebeu 17.955
hóspedes, um número que ficará muito aquém em 2020, devido aos
constrangimentos provocados pela pandemia de Covid-19.Até junho, e
de acordo com os mesmos dados, tinham sido registados nas várias
unidades de alojamento (desde a hotelaria tradicional, passando pelo
turismo espaço rural, alojamento local, casas de hóspedes e alojamentos
particulares) 1.416 hóspedes.