Empresários de São Jorge reivindicam medidas de apoio a empresas e famílias
29 de mar. de 2022, 17:26
— Lusa/AO online
“É
essencial que se comecem a pensar em medidas que apoiem e fomentem o
regresso das pessoas à sua ilha e às suas casas, tendo por base uma
comunicação muito assertiva e que transmita confiança aos que partiram”,
afirmou a presidente do núcleo empresarial de São Jorge da CCAH, Rita
Madruga, que falava por videoconferência, numa conferência de imprensa,
que ocorreu em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira.Os
empresários de São Jorge reivindicam a criação de apoios “a fundo
perdido”, “de imediato” e com “efeitos a 19 de março”, alertando para a
possibilidade de se verificar uma “profunda recessão da economia da
ilha”.“Se
não se agir rapidamente, corremos o risco de ter uma situação que se
torna endémica, com consequências catastróficas para a economia da ilha e
seus habitantes, agravando ainda mais o despovoamento verificado nas
últimas décadas”, salientou Rita Madruga.A
associação empresarial propõe o acesso ao 'lay-off' simplificado, com
um complemento regional, que apoie as empresas a 100% “na parte não
comparticipada pela Segurança Social”, e a criação de um programa de
apoio ao rendimento dos trabalhadores independentes, à semelhança do que
foi implementado na fase aguda da pandemia de covid-19.Defende
ainda um “apoio imediato à liquidez a todas as empresas de São Jorge”,
um “programa de apoio aos custos operacionais” e o “diferimento
automático, por um período indeterminado, dos reembolsos dos sistemas de
incentivos”.Sugere
também a atribuição de um apoio equivalente a três salários mínimos
regionais “por cada agregado familiar, que, no final da crise sísmica,
permaneça ou regresse permanentemente à ilha”.“Na
última semana, houve um êxodo muito acentuado da população, quer para o
concelho da Calheta, quer para outras ilhas, e os impactos fazem-se
sentir por todo o lado, desde o setor cooperativo, do queijo, que é
fundamental em termos económicos, a pequenos comércios. Inclusive alguns
chegaram a fechar por alguns dias”, reforçou a presidente do núcleo
empresarial.Segundo
Rita Madruga, os impactos económicos da crise sismovulcânica são
“transversais” a todos os setores de atividade, mas há um em que já se
sentem efeitos a médio prazo.“Um
dos nossos associados tem vários operadores turísticos a quererem
cancelar para maio. Não são só os cancelamentos imediatos que estamos a
sentir, mas já temos operadores turísticos a prever o pior e a tentarem
salvaguardar a situação. Há um trabalho que deve ser feito em termos de
preparação de alternativas e de tentar mitigar os efeitos que isto possa
ter a longo prazo”, avançou.A
presidente do núcleo empresarial sublinhou, por outro lado, que a crise
sismovulcânica coloca em risco as principais infraestruturas de
abastecimento da ilha, porto e aeroporto, localizados no concelho das
Velas.Nesse
sentido, apelou a que sejam feitas obras no porto da Calheta, para que,
“o mais rapidamente possível”, esteja em condições de “absorver as
transações comercias para a ilha”.O
presidente da Câmara de Comércio de Angra do Heroísmo, Marcos Couto,
alertou para a urgência da implementação destas medidas, que foram hoje
enviadas por ofício ao presidente do Governo Regional, José Manuel
Bolieiro, alegando que a atividade comercial no concelho das Velas
“praticamente deixou de existir” e que o concelho perdeu “50% da sua
população, pelo menos”.“As
pessoas podem aguentar uma semana, duas ou três, mas depois, se as
pessoas não regressarem, se não se regressar ao normal – e vai levar
algum tempo a regressar ao normal – não nos podemos esquecer que as
empresas têm encargos financeiros junto da banca, junto de fornecedores,
junto de inquilinos, eventualmente, que têm de cumprir”, frisou.Também
a Câmara de Comércio da Ilha de São Jorge (CCISJ) já tinha apelado à
adoção de medidas de mitigação dos impactos económicos da crise
sismovulcânica, propondo o acesso ao lay-off simplificado, a criação de
uma linha de crédito e a criação de um fundo de capitalização.A
ilha de São Jorge contabilizou mais de 20 mil sismos, mais de 200 dos
quais sentidos pela população, desde o início da crise sísmica em 19 de
março, segundo os dados oficiais.O número de sismos registados é mais do dobro do total contabilizado em toda a Região Autónoma dos Açores durante o ano de 2021.A
ilha está com o nível de alerta vulcânico V4 (ameaça de erupção) de um
total de sete, em que V0 significa “estado de repouso” e V6 “erupção em
curso”.