Empresários alegam que opção de ligar cabos submarinos à Terceira foi "técnica"
16 de jan. de 2023, 12:48
— Lusa/AO Online
“Sobre esta opção, estritamente técnica, é
importante referir que ela permitirá que os Açores não fiquem sujeitos
ao que tecnicamente se designa de ‘single point of failure’ [local num
sistema informático que, caso falhe, provoca a falha de todo o
sistema.]. Este facto é de grande importância, já que vivemos numa
região dada a catástrofes naturais”, afirmou o líder da associação
empresarial, Marcos Couto, em comunicado de imprensa.O
empresário referia-se ao facto de o cabo submarino CAM
(continente-Açores-Madeira) entrar primeiro na ilha Terceira, seguindo
depois para a ilha de São Miguel, onde ligará ao cabo já existente para o
arquipélago da Madeira.Na sexta-feira, o
deputado único do Chega nos Açores pediu esclarecimentos ao Governo
Regional (PSD/CDS-PP/PPM), em requerimento, sobre as razões que levaram o
executivo “a desviar para a ilha Terceira a principal ligação do cabo
submarino nos Açores”.José Pacheco
perguntou se São Miguel “perderá a ligação submarina direta a Lisboa” e
se, nesse caso, “poderá perder competitividade”, lembrando que a ilha
“concentra mais de metade da população (56%) e é o motor económico dos
Açores com 58% do PIB [Produto Interno Bruto]”.Em
comunicado de imprensa, o presidente da CCAH, que representa
empresários das ilhas Terceira, Graciosa e São Jorge, manifestou “enorme
perplexidade” com a posição do deputado do Chega, que acusou de revelar
“falta de conhecimento técnico sobre a situação” e “alta permissividade
aos 'lobbies' centralistas e bairristas da região”.“Para
o deputado do Chega, existem açorianos de primeira e de segunda
categoria, sendo que os de primeira são os que residem na sua ilha. Uma
atitude absolutamente lamentável em alguém que desempenha as funções de
deputado regional. Assume claramente a posição que o que não serve para
São Miguel, serve para as outras, tratando-as com desdenho e total
desprezo”, afirmou.Segundo Marcos Couto, a
solução encontrada dá mais segurança à ligação de cabos submarinos à
região, já que, com a atual ligação, em caso de catástrofe natural na
ilha de São Miguel, “os Açores ficariam totalmente desligados do mundo”.O
presidente da CCAH acrescentou que essa situação “impediu a ilha
Terceira “de captar investimentos ao nível, por exemplo, do ‘data
centre’”.“Na ilha Terceira existe uma base
militar norte americana, o AIR Centre e o Atlantic Centre, três
elementos essenciais para a segurança regional, nacional e
internacional. Estas três entidades utilizam uma grande quantidade da
capacidade dos atuais cabos submarinos, para quem a eliminação da enorme
fragilidade do ‘single point of failure’ é crucial para o seu
funcionamento”, frisou.O empresário rejeitou ainda que o período de latência das comunicações prejudique a ilha de São Miguel.“Poderia
ser, eventualmente relevante, para as possíveis cirurgias feitas
remotamente. Muito embora não tenhamos tido hipótese de verificar da sua
verdadeira importância, não queremos acreditar que esse seja um
problema para São Miguel e não o seja para a Terceira ou para as
restantes ilhas dos Açores”, apontou.“Na
realidade, a proximidade da Terceira às outras seis ilhas do Açores
[Flores, Corvo, Pico, Faial, São Jorge e Graciosa] irá diminuir a
hipotética latência e potenciar intervenções cirúrgicas nas outras ilhas
partindo da Terceira e assim salvar muitas vidas em ilhas em que a
presença física de um médico nem sempre é uma realidade ou uma
possibilidade”, acrescentou.Quanto ao
argumento de que São Miguel concentra mais de metade do PIB da região,
Marcos Couto defendeu que deve ser utilizado para se “começar a investir
fortemente nas outras ilhas” e não como “critério de mais centralismo e
bairrismo bacoco e serôdio”.