Empresários açorianos alegam desconhecer que beneficiaram de avales do Governo
30 de nov. de 2022, 18:19
— Lusa/AO Online
“Sinceramente,
não sabia por que razão tinha sido chamado a esta comissão de
inquérito”, questionou Carlos Cymbron, gerente da empresa José Cymbron,
Lda, ouvido na Comissão de inquérito à concessão de avales a empresas
privadas, reunida em Ponta Delgada, alegando não se recordar de que o
empréstimo contraído naquela altura, no âmbito do programa de
“estabilização de emprego”, no valor de 40 mil euros, vinha acompanhado
de um aval do executivo açoriano.O
empresário, ouvido pelos deputados à Assembleia Legislativa dos Açores,
garante que o empréstimo já foi liquidado e asseverou que “nunca”
constatou com “ninguém” da empresa pública “Ilhas de Valor”, através da
qual foi concedido o aval, nem com “ninguém do Governo”, embora tenha
admitido que esta garantia bancária permitiu à sua empresa beneficiar de
juros mais baixos.Também o empresário
José Luís Nunes, gerente da Sociedade Açoriana de Ótica e Ourivesaria,
Lda, alegou, durante a audição parlamentar, “desconhecer” que o
empréstimo que contraiu em 2014, no valor de 12 mil euros, tivesse
qualquer apoio do Governo, através de um aval.“Nunca
ouvi falar de nenhum aval”, garantiu o empresário, em declarações aos
deputados, alegando que o contrato que assinou com a banca foi tratado
diretamente com a contabilidade, mas nunca a seu pedido.Os
dois avales em causa, atribuídos pelo Governo Regional, liderado na
altura pelo PS, são exemplos de garantias “pouco transparentes”, no
entendimento dos partidos de direita (PSD, CDS-PP e PPM) que estão agora
na liderança do executivo açoriano e que suscitaram a criação desta
comissão de inquérito.Joaquim Machado,
deputado social-democrata, lembrou que a “Ilhas de Valor”, através da
qual o Governo atribuiu os avales, “omitiu” essa informação das suas
contas, situação que o Tribunal de Contas só recentemente descobriu.“Não
lhe causa estranheza que estes avales tenham sido omitidos das contas
da Ilhas de Valor”, questionou o deputado do PSD, dirigindo-se a José
Luís Nunes, que respondeu que não via “nenhuma razão” para isso: “se
estivéssemos a falar de um empréstimo de 12 milhões, mas eram apenas 12
mil euros”, ironizou.Joaquim Machado
questionou também Carlos Cymbron sobre o “esquecimento seletivo” em
relação a alguns pormenores dos contratos que assinou com o Governo, na
altura em que beneficiou de um aval atribuído pela região.O
empresário não gostou e deixou uma advertência: “pedia ao senhor
deputado Joaquim Machado que, da próxima vez que quiser deixar registado
que eu tenho falhas de memória, que o fizesse com um maior
esclarecimento, porque não achei bonito e não estou aqui na qualidade de
arguido”.A presidente da Comissão de
Inquérito, a social-democrata Sabrina Furtado, ainda exigiu que o
deputado do seu partido pedisse desculpa ao convidado, mas acabou ela
mesmo por o fazer: “Quem pede desculpa por alguma eventualidade sou eu,
como presidente desta comissão, de alguma coisa que possa,
eventualmente, sentir-se ofendido”.A
comissão de inquérito à concessão e avales a empresas privadas está a
investigar a eventual atribuição ilegal de avales ou garantias
bancárias, concedidas pelos anteriores governos socialistas, a entidades
privadas da região, que possam ter gerado benefícios a algumas empresas
ou que possam ter sido consideradas pouco transparentes.Andreia
Cardoso, deputada da bancada socialista, recordou que a concessão de
avales a empresas privadas, através da “Ilha de Valor”, tem o “devido
enquadramento” na legislação regional, concluindo não existir qualquer
ilegalidade neste processo.