Empresário português detido sem acusação apresenta queixa por "sequestro"
26 de dez. de 2022, 16:05
— Lusa/AO Online
O
advogado do empresário, Policarpo Monsuy Nkama, apresentou ainda queixa
contra o diretor-geral das Obras Públicas do país, Justino Nchama Ondo,
sobrinho do Presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang, e ainda
contra mais dois homens que acompanharam Nchama Ondo na noite de dia 9 e
o ajudaram a "sequestrar" o empresário português num hotel em Malabo,
levando-o para Luba, e torturando-o a meio do caminho, por
“sequestro”, “tortura com lesões graves” e “apropriação indevida”, de
acordo com o texto da queixa a que a Lusa teve acesso. Nuno
Pimentel apresentou ao tribunal provas médicas das agressões a que foi
sujeito nesse dia, comprovadas por uma médica do Hospital Jorge Gori, em
Luba, Ifigénia Foro Bosaho, assim como fotografias de extensos
hematomas nas costas, a que a Lusa também teve acesso.Na
mesma queixa ao tribunal de Primeira Instância e Instrução de Luba,
Nuno Pimentel pediu a “detenção e acusação dos presumíveis culpados dos
delitos”, solicitou uma fiança para “cobrir responsabilidades civis”, e
acusou a Esquadra Central da Polícia de Luba de ser “cúmplice” no
“delito de sequestro”, uma vez que é lá que o empresário português se
encontra ainda.O advogado de Pimentel
instou ainda o tribunal de Luba - que reconheceu na semana passada a
detenção do empresário na esquadra de polícia local - a dar ordem para a
“libertação imediata” do seu constituinte, porém, o empresário
português mantém-se “sequestrado”. O
empresário português Nuno Pimentel está detido sem acusação desde dia 9
na Guiné Equatorial, numa esquadra de polícia a 50 quilómetros de
Malabo, situação que o Governo português garantiu na sexta-feira estar a
acompanhar “com toda a intensidade”.“Estamos
a acompanhar esta situação com toda a intensidade que ela merece e
assim continuaremos até [o cidadão português Nuno Filipe Medeiros
Pimentel] ser libertado”, garantiu à Lusa o ministro dos Negócios
Estrangeiros, João Gomes Cravinho. “Sabemos
perfeitamente que a Guiné Equatorial é um país que tem grandes desafios
em matéria de Estado de direito. Há lacunas em matéria de Estado de
direito na Guiné Equatorial e isso é mais razão ainda para a diplomacia
estar ativa como está”, acrescentou Cravinho.Segundo
a organização Internacional Association Against Coruption (IAAC), o
empresário português está a ser submetido a “atos de tortura” por “se
recusar a ceder às solicitações de corrupção e pagamento de impostos
revolucionários” por altos quadros da Administração equato-guineense.A
organização não-governamental (ONG) de combate à corrupção com sede em
Paris é presidida por Joaquinito Maria Alogo de Obono, um neto do
Presidente equato-guineense, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo.Nuno
Pimentel estava com pessoas suas conhecidas no ‘lobby’ do Hotel Carmen
Galaxy, em Malabo, capital do país, no dia 9, quando, por volta das
21h00, o diretor-geral equato-guineense das Obras Públicas, Justino
Nchama Ondo, sobrinho de Teodoro Obiang, acompanhado por dois homens -
Filipe Esono Owondo e Roberto Nve -, o levou num veículo para o local
onde se encontra desde então, a Comissaria Distrital de Polícia de Luba
Bioko-Sur, a cerca de 50 quilómetros de Malabo.A descrição é do empresário português, em declarações à Lusa por telefone, aquando de uma visita do seu advogado local.No
caminho entre Malabo e Luba, o empresário foi levado para uma casa
particular, que Nuno Pimentel acredita pertencer a Justino Nchama Ondo,
onde foi espancado violentamente e ameaçado com uma rebarbadora de lhe
cortarem os dedos das mãos, e daí foi então levado para a esquadra em
Luba.“Pararam a meio do caminho, onde ele,
o Justino, tem uma casa de férias, há um caminho de terra, levaram-se
para dentro da casa, pensava que iriam deixar-me aí a dormir,
atiraram-me ao chão e começaram a torturar-me. Em seguida, com uma
rebarbadora, ameaçaram-me cortar os dedos. Disse-me que ia cortar-me
seis dedos”, relatou o empresário à Lusa. De
acordo com Joaquinito Alogo de Obono, advogado especializado em direito
internacional e professor na Universidade de Paris X, que denunciou o
caso em declarações à Lusa, Nuno Pimental está a ser alvo de tentativa
de “extorsão” num processo de corrupção “clássico e muito conhecido na
Guiné Equatorial”.João Gomes Cravinho
confirmou na sexta-feira que o Estado português tem “efetivamente
conhecimento deste cidadão nacional que está detido na Guiné
Equatorial”, acrescentando: “Obviamente é uma matéria que nos preocupa e
que a nossa embaixada em Malabo está a seguir de perto”.“Recorde-se
que o nosso envolvimento nestas matérias é constante. O mesmo cidadão
esteve detido entre abril e junho deste ano, foi possível, devido aos
esforços da diplomacia portuguesa, retirá-lo da prisão. Voltou agora a
ser preso e a diplomacia portuguesa volta a estar plenamente ativa”,
acrescentou o governante.O ministro
escusou-se a “comentar os factos que levaram à detenção”, mas sublinhou a
“preocupação” de que “se cumpram as normas do Estado de direito”.“A atuação da embaixada [de Portugal em Malabo] irá exatamente nesse sentido”, garantiu o governante português.Nuno
Pimentel passou o Natal na esquadra em Luba e não tem quaisquer
perspetivas de quando poderá vir a sair, segundo confirmou à Lusa.