Empresa excluída de concurso continua interessada no porto espacial de Santa Maria

19 de jan. de 2024, 17:05 — Lusa

“Os Açores estavam em primeiro lugar, mas ainda não o conseguimos. Temos esperanças de que o consigamos brevemente. Continuamos interessados e vamos aguardar que apareçam novidades. No mês passado, saiu a legislação”, adiantou, em declarações aos jornalistas, Carlos Valadão, da Rocket Factory Augsburg (RFA) nos Açores.O responsável da empresa falava à margem de uma apresentação no Parque de Ciência e Tecnologia da Ilha Terceira (Terinov), em Angra do Heroísmo, onde a RFA Azores está instalada.Criada em 2018, a RFA, integrada na empresa alemã OHB, expandiu-se em 2019 para Portugal, tendo presença nos Açores e em Matosinhos.A empresa integrava um dos dois consórcios que chegaram à fase final do procedimento para a instalação de um porto espacial em Santa Maria, para lançamento de pequenos satélites, ambos excluídos em abril de 2021.Inicialmente estava previsto que o contrato para a instalação e funcionamento do Porto Espacial de Santa Maria fosse assinado em junho de 2019, para que os primeiros lançamentos de pequenos satélites ocorressem no verão de 2021.O atual executivo açoriano chegou a publicar em Jornal Oficial um segundo concurso em abril de 2022, mas voltou atrás na decisão, alegando que a lei obrigava à realização de estudos de impacto ambiental e económico-financeiro.Em dezembro de 2022, o subsecretário regional da Presidência assegurou que o projeto para a construção do porto espacial avançaria em 2023, mas o novo concurso não chegou a ser lançado.A RFA espera lançar o seu primeiro foguetão, para transporte de satélites, em agosto deste ano, a partir do porto espacial de SaxaVord, no arquipélago de Shetland, na Escócia.Em 2024, prevê lançar dois foguetões, mas a meta, numa fase mais avançada, é fazer um lançamento por semana.A empresa conta com uma equipa de 15 pessoas em Matosinhos, onde está a construir o terceiro estágio dos foguetões, com recurso a fundos do Compete 2020, em parceria com o Centro de Engenharia e Desenvolvimento (Ceiia).“Temos alguns materiais portugueses. Posso realçar o revestimento da cortiça”, salientou Carlos Valadão.Apesar de ter encontrado uma solução alternativa para o lançamento, Carlos Valadão continua a acreditar que a criação de um porto espacial “é muito válido para os Açores, em particular para Santa Maria”.“Nós continuamos interessados, mas o tempo desgasta”, alertou.Sem revelar montantes envolvidos, o gestor da RFA Azores destacou o impacto logístico que teria o lançamento de pequenos foguetões na ilha.“Se quiséssemos ter uma cadência de lançamento de um foguetão por semana, pode imaginar a logística que isto obriga: transporte desses equipamentos, montagem, pessoas, tecnologia, todas as infraestruturas necessárias”, salientou.Ainda que comecem a surgir outros portos espaciais na Europa, Carlos Valadão defendeu que Santa Maria continua a ser atrativa.“Santa Maria já tem um 'cluster' ligado ao espaço, com vigilância, já tem muitas empresas ligadas a esse setor. Também tem uma densidade populacional que nos permite ter um espaço, porque para o lançamento dos foguetões obriga-nos a ter uma área de segurança de dois quilómetros e meio”, justificou.Na pequena ilha de Unst, em Shetland, onde está instalado o porto espacial SaxaVord, vivem 600 habitantes e só a RFA contratou 60 funcionários, a maioria de fora da ilha.Segundo Carlos Valadão, as autoridades locais deram “condições” para a instalação da empresa e a Agência Espacial do Reino Unido atribuiu um apoio de 3,5 milhões de libras.