Empresa deteta discrepâncias entre cobertura de rede real e a anunciada nos Açores
14 de nov. de 2023, 18:39
— Lusa
“Se
nós formos confrontar aquilo que medimos com aquilo que está publicado
no site da ANACOM [Autoridade Nacional de Comunicações], no nível da
disponibilidade das redes na Terceira há uma discrepância enorme”, disse
Nuno Cota, sócio fundador da Solvit, na apresentação dos primeiros
resultados do projeto Tour Signal, em Angra do Heroísmo.O
projeto avaliou as comunicações nas principais estradas da ilha
Terceira e nas ligações marítimas entre as ilhas do grupo central dos
Açores, para perceber se respondiam às expectativas dos turistas.Na
ilha Terceira, o estudo concluiu que, na média das três operadoras,
90,47% da ilha tinha uma “cobertura aceitável” e 9,53% uma “cobertura má
ou inexistente”.O trabalho conclui ainda
que a rede 5G só chega a 8% da ilha, concentrada sobretudo nas duas
cidades, a 4G abrange 84% do território, a 3G abrange 5% e a 2G 3%.Também
os ritmos de transmissão são “muito baixos, quando comparados com o
anunciado”, ficando “abaixo dos 10 mebabits por segundo” em cerca de 35%
das zonas.Já no mar, a cobertura das
rotas entre as ilhas do grupo central foi “quase total”, mas “75% das
rotas” apresentavam ritmos abaixo de um megabit por segundo.“A
cobertura ainda está muito aquém da expectativa atual dos turistas, em
termos de capacidade, de ritmos de transmissão. Mesmo a tecnologia 5G,
que verdadeiramente traz uma capacidade diferente, ainda não está
disponível em toda a ilha e ainda há zonas da ilha, que são eixos
fundamentais, frequentadas pelos turistas, que não têm qualquer rede”,
alertou Nuno Cota, em declarações à Lusa.A
tecnologia, com “custos 10 vezes inferiores a outros equipamentos que
existem no mercado”, avalia os três operadores de comunicações
disponíveis e as redes de emergência, através de equipamentos que são
instalados em viaturas ou navios, que estão “permanentemente a fazer a
aquisição de tudo quanto está no espetro rádio”.Desenvolvido
na Solvit, instalada no Parque de Ciência e Tecnologia da Ilha Terceira
(Terinov), este equipamento pode ser aplicado em qualquer parte do
país.“Está disponível para qualquer
entidade, quer seja uma entidade pública governamental, que queira
aferir a cobertura para tomar decisões, para fazer pressão junto dos
operadores, quer sejam os próprios operadores que queiram em tempo real
saber o estado da sua rede”, apontou Nuno Cota.O
projeto avaliou também a importância que os turistas dão às
comunicações nos Açores, através de um inquérito elaborado pela empresa
Fundo de Maneio, que concluiu que 47,3% dos inquiridos utilizam o
‘smartphone’ mais do que uma vez por hora e 20,9% pelo menos uma vez por
hora.“Não dispensam aceder à internet, à
possibilidade de mandar mensagens ou realizar chamadas. Isso é
transversal, quer ao nível dos turistas nacionais, quer ao nível dos
turistas internacionais”, revelou Gualter Couto, da Fundo de Maneio.O
consultor sublinhou que os turistas já não utilizam a internet apenas
para relatar a experiência ou comunicar com os amigos e família, mas
também para “procurar um restaurante ou uma atividade turística”.“A
maioria esmagadora dos turistas inclusivamente mete em causa fazer
determinadas experiências se não tiver acesso a redes de emergência”,
frisou.Os Açores não estão “num momento
zero”, mas ainda têm “um longo caminho a percorrer” e devem “acelerar o
passo do uso disseminado das tecnologias”, defendeu Gualter Couto.“Temos
de continuar a investir na tecnologia, não só a nível público, mas
também a nível privado, no alojamento, nos restaurantes, nas empresas de
animação turística, que têm de ter noção de que é cada vez mais
importante disponibilizarem na internet os seus serviços, porque vão ser
cada vez mais procurados através da internet”, explicou.