Emigração portuguesa para o Havai “é uma história que precisa de mais atenção”
14 de out. de 2021, 11:05
— Lusa/AO Online
“Não há muito escrito sobre os
portugueses como comunidade de emigrantes, e há ainda menos escrito
sobre a emigração portuguesa no Havai”, afirmou a historiadora, que é
professora na Universidade Estadual da Califórnia, Long Beach. Binkiewicz,
que falava num painel organizado pelo Instituto Português
Além-Fronteiras, da Universidade Estadual da Califórnia, Fresno, disse
que a sua expectativa é que o livro atraia públicos diversos, dos
luso-americanos aos leitores interessados na história do Havai. “É um tema importante – essa experiência da emigração, a busca pelo sucesso”, indicou.O
seu livro, “Between the Sea and Sky – The Saga of My
Portuguese-American Family in Upcountry Maui, 1881-1941” (Entre o mar e o
céu - A saga da minha família luso-americana no interior de Maui,
1881-1941), conta a história de emigração da sua família, de São Miguel
para o Havai. “Uma das coisas que me levou
a escrever foi que sempre que eu falava de como a minha família veio
dos Açores para o Havai, as pessoas achavam interessante”, contou Donna
Binkiewicz. “Mas quando comecei a fazer trabalho e pesquisa, percebi que
não havia muito escrito sobre isto”. A
autora referiu que mesmo um livro sobre a emigração açoriana para os
Estados Unidos, publicado por Jerry Williams em 2005, tinha apenas uma
dezena de páginas dedicadas aos portugueses no Havai. “Senti que esta é uma história que precisa de mais atenção, para lá dos números e da história geral das plantações”, explicou. “Penso
que os portugueses, em particular, ficaram perdidos, porque as
histórias sobre os trabalhadores das plantações focam-se nos
ásio-americanos, que foram a maioria após 1900”, continuou. “Mas no
final do século XIX, os portugueses eram um número significativo da
população que foi trazida para trabalhar nas plantações de açúcar”.A
sua família fez parte dessa vaga de emigrantes que partiram de várias
partes do mundo, incluindo do arquipélago dos Açores, para o Havai, que
nessa altura era um reino e estava longe de integrar os Estados Unidos. “Há uma presença portuguesa na minha cidade-natal e noutros locais no Havai que merece muito mais atenção”, reiterou a docente.Binkiewicz
salientou que os portugueses se destacaram porque muitos terminaram os
contratos iniciais de três anos nas plantações e foram em busca de
outros sonhos. “Tornaram-se agricultores e rancheiros”, exemplificou. “A minha família acabou a cultivar ananás”. Os
portugueses também construíram igrejas católicas que ainda hoje estão
de pé, indicou a autora. “Eles introduziram o catolicismo de forma
proeminente onde antes não existia”.O
livro, embora sendo de não-ficção, está escrito de forma romanceada,
tendo por isso um formato que Binkiewicz caracterizou como híbrido.
Atravessa várias gerações da sua família desde que os primeiros
elementos fizeram a longa travessia de São Miguel para o Havai, no
século XIX. “Foi muito corajoso o que eles
fizeram. Começar tudo de novo num sítio desconhecido, como fazem todos
os emigrantes”, disse a autora. Um dos
objetivos no livro foi também destacar o papel das mulheres portuguesas,
“que não receberam muito crédito” pelo trabalho que fizeram,
acrescentou. Donna M. Binkiewicz leciona no Departamento de História da Universidade Estadual da Califórnia, Long Beach.