Eleições de 2024 serão decisivas para desfecho da guerra
Ucrânia
11 de jan. de 2023, 15:26
— Lusa/AO Online
“As
guerras já não acabam com um tratado de paz, como aconteceu nas
primeira e segunda guerras mundiais, as guerras podem continuar ou
terminar com eleições”, disse Krastev durante uma conferência em Viena,
também transmitida por vídeo, a que a agência Lusa assistiu.Presidente
do Centro de Estratégias Liberais de Sófia e investigador do Instituto
de Ciências Humanas de Viena, Krastev, 58 anos, é considerado um dos
mais destacados analistas de política internacional, com colaborações em
artigos de opinião nos jornais The New York Times e Finantial Times.É
autor de uma dezena de livros sobre a democracia e a Europa, incluindo o
ensaio sobre as consequências da pandemia “Is It Tomorrow Yet?:
Paradoxes of the Pandemic”, publicado em Portugal com o título “O Futuro
por Contar - como a pandemia vai mudar o nosso mundo” (Objetiva, 2020).Na
conferência “2023: Desafios e Escolhas da Europa”, promovida pelo
clube de imprensa Concordia de Viena, fundado em 1859, Krastev disse que
os resultados das eleições são vistos como sendo tão críticos como o
resultado das guerras.Deu como exemplo a
influência da guerra no Vietname na política norte-americana, do
conflito na Argélia na política francesa ou da derrota de Slobodan
Milosevic nas eleições de 2000 para o desfecho da guerra na antiga
Jugoslávia.Num caso mais atual, referiu os
acontecimentos do fim de semana no Brasil, com apoiantes de Jair
Bolsonaro a ocupar as sedes do poder em Brasília depois de o
ex-presidente ter sido derrotado por Lula da Silva nas
presidenciais de outubro.No caso da guerra
que a Rússia iniciou ao invadir a Ucrânia a 24 de fevereiro do ano
passado, Krastev disse que não irá “congelar em 2023” e que as duas
partes quererão marcar posições no caminho para as eleições do ano
seguinte.Referiu que as eleições presidenciais na Ucrânia e na Rússia ocorrerão quase ao mesmo tempo, em março de 2024.No
caso russo, destacou um facto novo, que considerou “bastante
importante”, mas não necessariamente positivo, que é a ascensão de um
“grupo muito forte pró-guerra e nacionalista”.Este
grupo, disse, “está descontente” com o Presidente Vladimir Putin, que
“controlava muito tudo à sua direita” até há pouco tempo, embora “ainda
controle bastante”.Na Ucrânia, um
adiamento das eleições por causa da guerra “não é uma opção” para o
Presidente Volodymyr Zelensky, porque os russos estarão a votar e o
nível de digitalização do país permite a votação.“O
apoio que a Ucrânia está a receber atualmente baseia-se em grande parte
no facto de ser uma democracia que combate o terrorismo”, acrescentou
como mais uma razão para o não adiamento das presidenciais.Outra
eleição que destacou é a de Taiwan, longe da Europa, mas que preocupará
a China por causa do sentimento pró-independência na ilha, que os
Estados Unidos e aliados prometem defender se Pequim a invadir como a
Rússia fez com a Ucrânia.“Isto pode mudar muito a forma como os chineses veem não só Taiwan, mas também a guerra russo-ucraniana”, disse.As
eleições para o Parlamento Europeu, mesmo que não se destinem a mudar
governos, são importantes por serem aproveitadas para o voto de
protesto.“As eleições europeias vão ser a
maior sondagem de opinião pública realizada sobre muitas políticas,
incluindo o apoio à guerra”, argumentou.No
Reino Unido, disse não acreditar que as eleições alterem a posição em
relação à guerra, mas o conflito influenciará o “cálculo dos líderes
políticos”, que quererão justificar o apoio que tem sido dado a Kiev.Mas
as eleições que Ivan Krastev considerou críticas para a guerra na
Ucrânia são as presidenciais dos Estados Unidos, notando que o primeiro
destino estrangeiro de Zelensky desde o início dos combates foi
Washington.“A Ucrânia não pode ganhar a
guerra contra a Rússia se não quiser continuar a contar com o apoio
financeiro e militar do Ocidente”, disse.Esse
apoio será fundamental para um país ao qual a Rússia destruiu já cerca
de dois terços da indústria de defesa e 30 por cento da economia, e que
necessita de avultados financiamentos mensais para continuar a
funcionar.O bombardeamento das
infraestruturas de energia da Ucrânia, além do elemento psicológico, “é a
morte para qualquer negócio, porque não se pode ter qualquer tipo de
produção” sem um fornecimento contínuo de eletricidade, referiu.Se
o atual Presidente norte-americano, Joe Biden, se recandidatar em 2024,
não quererá que a Ucrânia esteja a perder a guerra, “porque basicamente
não consegue explicar aos eleitores o apoio” dado aos ucranianos.Para
Krastev, o “verdadeiro inimigo” da atual administração “é o outro
candidato”, o ex-presidente Donald Trump, que já anunciou a candidatura.Biden,
referiu, que não pode permitir que os norte-americanos acreditem que a
NATO vai participar na guerra na Ucrânia, porque não há apoio interno
para um envolvimento direto dos Estados Unidos.“A
guerra [na Ucrânia] vai ser moldada não simplesmente como a guerra de
Putin, mas por causa da guerra de Biden, e os republicanos vão atacá-lo
ou por fazer demasiado ou por não ganhar o suficiente”, disse.Assumindo-se
como um viciado em sondagens como quem bebe café de manhã, Krastev
disse que muitos norte-americanos acreditam que sabem “quem são os bons e
quem são os maus” na guerra na Ucrânia.“Eles
querem que os bons ganhem, mas não querem lutar porque têm a sensação
de que a América luta há demasiado tempo em demasiadas guerras”,
acrescentou.