Eleições após pico de vaga pandémica e com 180 a 250 mil eleitores em isolamento
Covid-19
13 de jan. de 2022, 12:56
— Lusa/AO Online
“No
fim do mês, deveremos ter entre 180 e 250 mil pessoas que podem ir
votar, mas que estão isoladas”, adiantou à agência Lusa o professor
do departamento de matemática do Instituto Superior Técnico, que não
inclui neste universo os menores de 18 anos e os potenciais
abstencionistas, com base no histórico de participação em anteriores
eleições.Segundo Henrique Oliveira, a
previsão do total de isolamentos devido à Covid-19 a 30 de janeiro, dia
das eleições para a Assembleia da República, é de 450 a 500 mil
pessoas, com um mínimo estimado de cerca de 300 mil.“Nas
últimas eleições houve cerca de 50% de abstenção. Nem toda a gente que
está isolada quer ir votar”, salientou o matemático, para quem “entre
180 e 250 mil são aqueles para quem é necessário arranjar um sistema que
os leve a votar” nas próximas legislativas.O
especialista em sistemas dinâmicos estimou ainda que o pico da atual
vaga pandémica possa acontecer em Portugal entre 20 e 24 deste mês,
quando o país poderá ter entre 100 e 130 mil infeções diárias pelo
coronavírus SARS-CoV-2, das quais poderão ser reportadas pelas
autoridades de saúde cerca de 45 mil.“A
30 de janeiro já devemos ter passado o pico e estar a descer bastante na
incidência, mas, nessa altura, ainda podemos ter internamentos elevados
e um número de mortes na ordem das 30 por dia”, tendo em conta a
diferença de tempo que existe entre a infeção e o óbito, prevê.A
estimativa é que, nesta vaga, o número de mortes, na média a sete dias,
possa atingir o máximo de 30 a 35 e que os doentes em cuidados
intensivos cheguem aos 240 e os internamentos gerais aos 2.500.“O
número de mortes, em média a sete dias, vai continuar a subir
gradualmente. A nossa previsão é que a mortalidade se vai manter acima
dos 20. Ontem (quarta-feira) atingimos 21,7 mortes em média a sete dias,
o que não acontecia há dez meses”, alertou.De
acordo com o matemático, até há dois dias, a positividade dos testes,
também na média a sete dias, estava em 12,7%, um valor “elevadíssimo” e
que representa o triplo da taxa de setembro, o que significa que o país
pode estar com três vezes mais casos do que os registados pelas
autoridades de saúde.“A testagem só revela a ponta do iceberg. Os casos ainda estão elevados”, alertou.Em
declarações à Lusa, o professor recorreu também ao indicador
desenvolvido por especialistas do Instituto Superior Técnico e pela
Ordem dos Médicos, assente nos dados dos internamentos, dos cuidados
intensivos, da letalidade, da incidência e do índice de
transmissibilidade (Rt), para perspetivar a pressão sobre os serviços de
saúde.De acordo com Henrique Oliveira, na
quarta-feira Portugal estava no índice 97,6, apenas a 2,4 pontos do
limiar de 100, a partir do qual a resposta do sistema de saúde a outras
patologias fica comprometida.“Vamos passar
os 100 pontos, o que significa que estamos a hipotecar a capacidade do
sistema para tratar pessoas que não têm covid-19, mas provavelmente não
vamos atingir os 120”, que é o valor previsto neste sistema para o nível
de catástrofe na resposta de saúde, estimou.Perante
os dados atuais, Henrique Oliveira constatou que a covid-19 “é a doença
contagiosa que continua a matar mais em Portugal”, ainda responsável
por uma média superior a 20 óbitos diários.“Não
há nenhuma doença infecciosa que ponha cerca de 160 pessoas nos
cuidados intensivos. É uma percentagem brutal das camas disponíveis para
doença infecciosa”, disse o matemático, ao salientar, porém, que os
números atuais são muito inferiores aos registados na vaga do início de
2021.A 30 de janeiro de 2021, apenas um
mês depois de ter arrancado a vacinação, Portugal registou 12.435
infeções pelo coronavírus, menos 28.510 do que os 40.945 casos
notificados na quarta-feira, mas a pressão sobre os serviços de saúde
era muito superior, assim como o número de óbitos.Nesse
dia de 2021 foram registadas 293 mortes associadas à Covid-19, 6.544
doentes estavam internados em enfermaria e 843 necessitavam de cuidados
intensivos, enquanto na última quarta-feira registaram-se 20 óbitos e
1.635 internados e 167 pessoas em unidades de medicina intensiva.Ou
seja, o número de pessoas que morreram na quarta-feira, em comparação
com 30 de janeiro de 2021, é 93% mais baixo, estando internados menos
75% dos doentes em enfermaria e 80% em cuidados intensivos, numa altura
em que 8,7 milhões de pessoas têm a vacinação completa e quase 3,5
milhões receberam a dose de reforço.Em
Portugal, desde março de 2020, morreram 19.181 pessoas e foram
contabilizados 1.734.343 casos de infeção, segundo a última atualização
da Direção-Geral da Saúde.Uma nova
variante, a Ómicron, considerada preocupante e muito contagiosa pela
Organização Mundial da Saúde (OMS), foi detetada na África Austral, e
desde que as autoridades sanitárias sul-africanas deram o alerta, em
novembro, foram notificadas infeções em pelo menos 110 países, sendo
dominante em Portugal.