Economistas defendem compensações às empresas pelo aumento do ordenado mínimo
10 de out. de 2022, 10:08
— Carolina Moreira
O presidente da delegação regional da Ordem dos
Economistas, Francisco Bettencourt, alerta para possíveis problemas de
“tesouraria” e “viabilidade” das empresas açorianas, devido ao aumento
previsto do ordenado mínimo para 2023, e defende medidas que ajudem a
“compensar” o incremento dos custos.“O aumento do ordenado mínimo,
embora não compense a subida da inflação para as famílias, porque
abrange uma franja muito grande de trabalhadores, implica sempre um
investimento muito considerável por parte das empresas, o que pode
complicar a sua viabilidade. Acredito que as empresas venham a ter
problemas de tesouraria devido a este aumento”, alerta Francisco
Bettencourt. Nesse sentido, o economista realça que esta medida “tem
de ser compensada, pelo menos numa fase inicial, de forma a que as
empresas possam suportar também os consequentes aumentos da segurança
social e de outros impostos, até porque estamos a recuperar de dois anos
de pandemia e as empresas ainda não estão com a sua tesouraria
equilibrada”, ressalva.Para Francisco Bettencourt, esta compensação
terá de partir do Governo da República, uma vez que se trata de uma
decisão a nível nacional. “A decisão sobre o aumento do ordenado mínimo é
do Governo da República. Como tal, qualquer compensação que haja a esse
nível também deverá ser efetuada pela República”, afirma.O
economista prevê ainda que o aumento do ordenado mínimo em 2023 possa
ter repercussões “ao nível do emprego futuro” na Região e que venha a
“pressionar os restantes níveis remuneratórios”.“Não tenho dúvidas
de que, em empresas onde o ordenado médio não é muito superior ao
ordenado mínimo, haverá pressão por parte dos restantes níveis para
também serem aumentados. Será um processo evolutivo que depois irá
acompanhar todos os níveis seguintes e isso é preocupante para as
empresas”, alerta.Questionado pelo Açoriano Oriental sobre de que
modo a atual conjuntura económica poderá agravar a situação das famílias
e das empresas, o representante dos economistas nos Açores fala numa
“tempestade perfeita” para possíveis “incumprimentos”.“O aumento da
inflação, que é visível no incremento do custo dos bens, e o aumento
exponencial dos juros dos créditos, uma vez que estamos a falar de
aumentos de três pontos percentuais, são fatores que agravam a situação
das famílias e das empresas, principalmente quanto maiores forem os
empréstimos. Toda esta situação faz prever um incumprimento de ambas as
partes, apesar de já se falar em medidas para aumentar os prazos de
pagamento para se tentar diluir esse incremento dos juros”, aponta.Francisco
Bettencourt fala, por isso, num “ano de 2023 mais complicado” e defende
que, ao nível das famílias, terá de haver “uma preocupação grande com
as camadas mais vulneráveis” por parte do Governo açoriano.Quanto às
empresas, destaca que será importante a aposta em “créditos a fundo
perdido ou com bonificação dos juros para que possam continuar a sua
atividade, já que muitas delas ainda não conseguiram recuperar dos dois
anos de pandemia”, salienta.