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ECDC aponta sérias lacunas na prevenção e controlo de infeções nos cuidados continuados

Um estudo do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC)) concluiu pela existência de sérias lacunas nas medidas de prevenção e controle de infeções e na gestão de antimicrobianos nos cuidados continuados na Europa


Autor: Lusa/AO Online

Segundo dados divulgados, esta investigação, realizada em 2023 e 2024 e que abrangeu mais de 66.000 residentes em 1.057 instituições de cuidados continuados em 18 países da União Europeia, incluindo Portugal (81 unidades), concluiu que 3,1% dos utentes apresentaram pelo menos uma infeção relacionada com a prestação de cuidados de saúde.

Embora algumas destas infeções possam ser facilmente tratadas, “outras podem ter um impacto grave na saúde das pessoas afetadas”, refere a investigação.

Perante estes resultados, o ECDC (sigla em inglês) aconselha as instituições de cuidados continuados a reforçar as medidas de prevenção e controle de infeções, “alocando recursos adicionais, melhorando a vigilância e promovendo diretrizes claras e maior consciencialização” nestas unidades, que cuidam de alguns dos cidadãos mais vulneráveis, os idosos.

“Esta pesquisa mostra que precisamos de proteger melhor os residentes de instituições de permanência prolongada com estratégias baseadas em evidências, vigilância aprimorada e um firme compromisso com mudanças reais”, disse Piotr Kramarz, investigador chefe do ECDC.

Entre outras recomendações, o ECDC aconselha estas instituições a definirem a desinfeção das mãos com solução alcoólica como o principal método de higiene das mãos, assim como a melhorar as práticas de prescrição de antimicrobianos, concentrando-se na “racionalização do uso profilático”.

“Essas ações são essenciais para proteger a saúde dos residentes em unidades de longa permanência e conter a disseminação da resistência antimicrobiana em toda a Europa”, acrescenta.

Os dados revelam que as infeções mais comuns relatadas nas instituições de cuidados continuados foram as urinárias, respiratórias e de pele.

Entre as infeções confirmadas, a Escherichia Coli (E.Coli) foi a bactéria mais frequentemente identificada, seguida pelo virus SARS-CoV-2, a Klebsiella pneumoniae e Staphylococcus aureus.

No entanto, apenas uma em cada cinco infeções relacionadas com os cuidados de saúde foram confirmadas microbiologicamente, “levantando preocupações sobre subdiagnóstico e um tratamento sem evidências definitivas”, alerta o ECDC.

Os dados divulgados a propósito do Dia Mundial da Higiene das Mãos, que hoje se assinala, referem ainda que mais de 4% dos residentes nestas instituições estavam a tomar pelo menos um antimicrobiano no momento da investigação, com quase um terço dessas prescrições feitas para fins profiláticos. As infeções urinárias foram a principal indicação tanto para o tratamento quanto para o uso profilático de antibióticos.

O estudo também avaliou se as instituições estavam bem preparadas para prevenir infeções e se utilizavam antibióticos com prudência. Embora quase todas as unidades tivessem protocolos de higiene das mãos em vigor, uma em cada cinco não possuía equipa treinada em prevenção e controlo de infeções, conclui o ECDC.

Menos da metade possuía um grupo específico para prevenção e controlo de infeções e quase 40% não tinham componentes de um programa de administração de antimicrobianos a funcionar. Além disso, menos de uma em cada dez formou profissionais sobre práticas adequadas de prescrição de antibióticos.

Quatro em cada cinco instituições disseram usar a desinfeção das mãos com solução alcoólica como método principal de higiene das mãos, enquanto uma em cada cinco utilizava principalmente a lavagem com água e sabão. No entanto, quase um terço das instituições não possuía um sistema regular para monitorar a higiene das mãos e fornecer feedback à equipa.

Foram consideradas instituições de cuidados de longa duração aquelas nas quais os residentes precisam de supervisão constante (24 horas/ dia), de "cuidados de enfermagem altamente qualificados", ou seja, mais do que cuidados de enfermagem e assistência "básicos" para a vida diária, em que os utentes estão “clinicamente estáveis” e não precisam de "cuidados médicos especializados" ou de procedimentos médicos invasivos (por exemplo, ventilação).