Dois vetos depois, tema regressa ao parlamento sem se saber o que fará Marcelo
Eutanásia
8 de jun. de 2022, 15:12
— Lusa/AO Online
Em discussão em plenário
da Assembleia da República vai estar também um projeto de resolução do
Chega que pretende a realização de um referendo sobre o tema.Os
quatro projetos retiram a exigência de "doença fatal" como critério
para a despenalização da morte medicamente assistida. PS, BE e
Iniciativa Liberal propõem a eutanásia em situações de “lesão definitiva
de gravidade extrema” ou “doença grave e incurável”. Quanto a este
último critério, o PAN estabelece a exigência de “doença grave ou
incurável”. A última versão do decreto,
aprovada em novembro de 2021, tinha a seguinte redação das condições
para a prática legal da morte medicamente assistida: "Por decisão da
própria pessoa, maior, cuja vontade seja atual e reiterada, séria, livre
e esclarecida, em situação de sofrimento intolerável, com lesão
definitiva de gravidade extrema ou doença incurável e fatal, quando
praticada ou ajudada por profissionais de saúde".Contudo,
noutras partes do decreto, aparecia pela primeira vez, no lugar de
"doença incurável e fatal", a expressão "doença grave ou incurável", que
numa das normas era definida como "doença grave que ameace a vida, em
fase avançada e progressiva, incurável e irreversível, que origina
sofrimento de grande intensidade". Das
iniciativas que estarão em debate esta quinta-feira, a da IL é a que
introduz mais alterações face a este último texto final, propondo que o
médico seja atribuído “de forma sequencial, de entre uma lista de
médicos especialistas na patologia que afeta o doente, que manifestem
interesse em integrar essa lista, elaborada pela Ordem dos Médicos,
tendo em conta um critério de territorialidade que promova a proximidade
geográfica do médico especialista ao doente”. Os
liberais avançam com um período de reflexão “não inferior a dois dias,
durante o qual é obrigatório o acompanhamento psicológico”, entre o
agendamento para a prática da morte medicamente assistida e “a
administração dos fármacos letais”.Ao
contrário do que acontece com os diplomas de acesso aos metadados ou de
emergência sanitária, que o Presidente da República já fez saber que vai
enviar para o Tribunal Constitucional, no caso da eutanásia não se sabe
ainda o que fará Marcelo Rebelo de Sousa após a sua provável aprovação
pelo parlamento.Desde o início do
processo, o chefe de Estado defendeu que deveria haver um amplo e longo
debate na sociedade portuguesa, mas recusou sempre revelar a sua posição
pessoal e antecipar uma decisão - promulgação, veto ou envio para o
Tribunal Constitucional - antes de lhe chegar algum diploma.No
sábado, em Santarém, Marcelo disse que vai “esperar para ver” a lei
sobre a eutanásia e afirmou estar “acima dos braços de ferro”.A
primeira vez que os deputados tentaram legislar sobre a matéria foi em
maio de 2018 mas os projetos de PS, BE, PAN e PEV acabaram chumbados.Dois
anos depois, os mesmos partidos reapresentaram os projetos, aos quais
se juntou a IL, à data representada pelo deputado único, João Cotrim de
Figueiredo. O diploma, aprovado por
maioria na Assembleia da República, seguiu para Belém em 18 de fevereiro
de 2021 e no mesmo dia, Marcelo Rebelo de Sousa enviou-o para o
Tribunal Constitucional para fiscalização preventiva. Cerca
de um mês depois, o TC chumbou a lei e o Presidente vetou o diploma,
que regressou ao parlamento, de onde saiu novo texto final aprovado por
larga maioria em novembro do mesmo ano, com algumas alterações,
nomeadamente, um novo artigo inicial de definições para clarificar
conceitos, oito no total, desde a morte medicamente assistida à "lesão
definitiva", doença grave ou incurável.O
documento voltou a Belém numa altura em que já estava instalada a crise
política após o chumbo do Orçamento do Estado para 2022 e as eleições
legislativas marcadas para 30 de janeiro.No
final de novembro, Marcelo Rebelo de Sousa vetou politicamente a lei,
realçando que o novo texto utilizava expressões diferentes na definição
do tipo de doenças exigidas e defendeu que o legislador tinha de optar
entre a "doença só grave", a "doença grave e incurável" e a "doença
incurável e fatal".No caso de a Assembleia
da República querer "mesmo optar por renunciar à exigência de a doença
ser fatal, e, portanto, ampliar a permissão da morte medicamente
assistida", segundo Marcelo Rebelo de Sousa, optará por uma “visão mais
radical ou drástica” e questionou se isso corresponde “ao sentimento
dominante na sociedade portuguesa”.Com um
novo parlamento eleito nas legislativas de janeiro, PS e PSD já
anunciaram que vão dar liberdade de voto aos seus deputados, sendo que
IL, BE, PAN e Livre posicionam-se a favor da despenalização e Chega e
PCP contra.