Dois em cada três alunos concorrem a cursos com média igual ou superior a 16 valores
10 de fev. de 2023, 13:23
— Lusa
A
ministra da ciência, tecnologia e Ensino Superior, Elvira Fortunato,
reconheceu no parlamento que “o novo modelo de acesso não vai
resolver todos os problemas”, mas disse que “os exames nacionais dão
maior equidade e justiça de acesso ao ensino superior”.Elvira
Fortunato foi chamada à comissão parlamentar de Educação e Ciência para
explicar o novo modelo de acesso ao ensino superior que prevê, entre
outras medidas, o regresso dos exames nacionais para concluir o
secundário e que as Instituições de Ensino Superior (IES) passem a
exigir, pelo menos dois exames.Atualmente, mais de metade da IES pede apenas uma prova nacional. Os
deputados do PCP e do Bloco de Esquerda criticaram o regresso dos
exames e o maior peso dessas notas no acesso ao ensino superior,
considerando que as medidas vão aumentar as desigualdades, prejudicando
os alunos mais carenciados.Em resposta, o
secretário de estado do Ensino Superior disse que “cerca de dois terços
dos alunos escolhem um curso com nota mínima igual ou superior a 16
valores”, e que existem discrepâncias de notas atribuídas pelas escolas
públicas e privadas, mas também “desigualdades entre distritos”.“Quando
estamos a falar de um sistema em que cerca de 60 mil candidatos
concorrem entre si, temos de ter os exames para minimizar essas
desigualdades, que existem e existirão sempre”, afirmou Pedro Teixeira. Sobre
as maiores dificuldades de acesso dos mais desfavorecidos, a ministra
lembrou os regimes especiais de acesso, que vão desde “diferenciar
positivamente” os alunos com deficiência, os maiores de 23 anos, os
militares, os que vivem nas ilhas ou os que são mais pobres.Além
das mais de 50 mil vagas do concurso de acesso ao ensino superior,
existem “cerca de 20 mil alunos que entram numa série de regimes”, disse
Elvira Fortunato, reconhecendo que “pode não ser o modelo ideal, mas
neste momento é o melhor modelo que o Governo apresenta em termos de
acesso ao ensino superior”.Depois de uma
primeira medida que previa um conjunto de vagas para os alunos oriundos
de escolas mais problemáticas, conhecidas como Territórios Educativos de
Intervenção Prioritária (TEIP), o Governo apresentou esta semana uma
nova proposta que abre a medida a todos os alunos mais pobres,
independentemente da escola que frequentem.Os novos contingentes prioritários preveem que cada curso disponibilize 2% das suas vagas para os alunos do escalão A.A
ideia é começar este ano com um projeto-piloto em que participam apenas
“IES voluntárias”, sendo alargado a todas as instituições em 2025.Portugal
irá receber da Comissão Europeia “um financiamento extra de 800 mil
euros” para poder fazer o acompanhamento do projeto-piloto, anunciou a
ministra.A deputada do Chega, Rita Matias,
criticou a medida defendendo que as vagas deveriam ser atribuídas
apenas tendo em conta a meritocracia e não fazendo uma discriminação por
se ser mais pobre, ultrapassando alunos com melhores notas: “A senhora
ministra conhece o conceito de meritocracia?”.Em
resposta, o secretário de Estado explicou que "não se trata de quotas
mas sim vagas” e que estes alunos “não ficam com os lugares de outros. O
que existe é que há grupos de candidatos que são tratados como grupos
prioritários”. Pedro Teixeira defendeu
ainda que estas vagas representam também casos de “meritocracia e de
esforço” porque permitem o acesso dos melhores alunos entre os mais
pobres: “É um estímulo que damos àqueles que nasceram num ambiente
desfavorecido”, disse.A proposta de
redução de vagas para os alunos das ilhas foi também um dos temas que
levou os deputados a chamar a ministra, mas a ideia foi entretanto posta
de lado pelo Governo.A deputada do PSD,
Sara Madruga, recordou que o pedido para ouvir a ministra foi feito há
um mês, quando se falava numa redução de contingente de acesso de 3,5%
para 2%, que “causou um enorme alarme social”. “Até
ao momento contamos apenas com palavras, precisamos de garantias”,
disse Sara Madruga, defendendo que “o recuo não pode ser provisório, tem
de ser definitivo. É fundamental que a senhora ministra dê aqui
garantias de que o recuo é definitivo”.Para
a ministra, a questão do contingente dos alunos das regiões autónomas
“é um não-assunto neste momento”, uma vez que se tratou de uma proposta
não foi acolhida no processo de revisão de acesso ao ensino superior:
“Que fique muito claro que não vai haver qualquer mexida em relação a
essa questão”, garantiu.Elvira Fortunato
aproveitou para anunciar que na próxima semana haverá “uma reunião com a
reitora da Universidade dos Açores para analisar o contrato programa
que está a ser delineado com a Universidade”.