Autor: Lusa/AO Online
“‘Miserando atque Eligendo’ (‘Olhou-o com misericórdia e escolheu-o’). Em nome da Santíssima Trindade. Amén”, escreveu Jorge Mario Bergoglio, iniciando com o seu lema como arcebispo de Buenos Aires e no seu pontificado a carta em que deixou expressa a sua última vontade, uma frase proveniente das homilias de São Beda, o Venerável, que se refere à sua escolha da vida religiosa.
“Sentindo que se aproxima o fim da minha vida terrena e com viva esperança na Vida Eterna, desejo expressar a minha vontade apenas no que respeita ao lugar da minha sepultura”, afirmou.
“Confiei sempre a minha vida e o meu ministério sacerdotal e episcopal à Mãe de Nosso Senhor, Maria Santíssima. Por isso, peço que os meus restos mortais sejam depositados na Basílica Papal de Santa Maria Maior, à espera do dia da ressurreição”, indicou.
“Desejo que a minha última viagem terrena termine precisamente neste antigo santuário mariano, onde eu ia rezar no início e no fim de cada viagem apostólica para depositar com confiança as minhas intenções à Mãe Imaculada e para lhe agradecer o seu dócil e materno cuidado”, prosseguiu.
“Peço que o meu túmulo seja preparado no nicho da nave lateral entre a Capela Paulina (Capela da Salus Populi Romani) e a Capela Sforza da referida Basílica Papal, conforme indicado no documento em anexo”, precisou, acrescentando: “O túmulo deve ser enterrado, simples, sem decoração especial e com a inscrição única: Franciscus”.
Sobre as despesas com os preparativos para as suas exéquias, referiu: “Serão cobertas pela soma do benfeitor que arranjei, que será transferida para a Basílica Papal de Santa Maria Maior e sobre a qual dei as devidas instruções a Monsenhor Rolandas Makrickas, Comissário Extraordinário do Capítulo Liberiano”.
“Que o Senhor conceda a merecida recompensa àqueles que me amaram e continuarão a rezar por mim. Ofereci ao Senhor o sofrimento que esteve presente na última parte da minha vida pela paz no mundo e pela fraternidade entre os povos”, concluiu o chefe da Igreja Católica desde 2013.
Os apartamentos do Papa Francisco, tanto aquele em que residia, na Casa Santa Marta, como o do Palácio Apostólico, que não utilizava, foram selados após a sua morte, como manda a tradição.
O rito de selagem é efetuado para garantir a segurança de todos os documentos e pertences do Papa falecido após a sua morte.
As portas do apartamento do Palácio Apostólico, que Francisco não utilizava desde a sua eleição, em 2013, foram seladas com uma fita vermelha e lacre da mesma cor, uma vez que decidiu viver em outra residência, a Casa Santa Marta.
À selagem assistiram o cardeal norte-americano Kevin Joseph Farrell - o camerlengo que deverá dirigir a administração da Igreja Católica durante este período de “sede vacante” -, o secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, e o arcebispo venezuelano Edgar Peña Parra, responsável pelos Assuntos Gerais da Secretaria de Estado da Santa Sé.
Depois, procedeu-se à selagem da Casa Santa Marta, com o mesmo objetivo.
Foi igualmente levado a cabo o ritual da constatação da morte, na sua residência, e logo o seu corpo foi colocado no féretro para ser velado na capela do edifício, tal como dispôs em vida o Papa argentino, que simplificou o protocolo.
Também o anel do Pescador e os selos papais serão cancelados, para que ninguém possa assinar documentos em seu nome após a sua morte.
Espera-se que o caixão de Francisco, o primeiro Papa latino-americano, seja na quarta-feira levado para a Basílica de São Pedro, no Vaticano, para ser visto pelos fiéis, e que o funeral se realize entre sexta-feira e domingo, segundo a legislação em vigor do Vaticano.