Dívida pública dos Açores aumentou 365,3 ME em 2020
24 de nov. de 2021, 13:09
— Lusa/AO Online
“Numa
situação de partida, em que as finanças públicas regionais já exibiam
uma posição orçamental estruturalmente deficitária, os desenvolvimentos
registados em 2020 acentuaram a deterioração das condições de
sustentabilidade da dívida pública regional”, afirmou o TdC.A
conclusão é de um estudo, cujo relatório foi divulgado esta quarta-feira,
que “pretendeu aferir o impacto da crise pandémica nas contas públicas
regionais em 2020”, mas analisou também a evolução registada no período
2009-2019, “de modo a contextualizar a situação de partida das finanças
públicas regionais para enfrentar a crise”.Segundo
o Tribunal de Contas, o défice orçamental dos Açores “ascendeu a 246,1
milhões de euros”, em 2020, o que representa “um agravamento de 163,2
milhões de euros face ao ano anterior, naturalmente influenciado pelos
efeitos da crise pandémica”.“A magnitude
do défice orçamental em 2020 explica, maioritariamente, o significativo
agravamento de 365,3 milhões de euros (+19,7%) que a dívida pública
regional evidenciou no exercício em causa, atingindo 2.215,4 milhões de
euros no final do mesmo”, avançou.O
Tribunal de Contas destaca ainda “a aquisição líquida de ativos
financeiros, que envolveu o dispêndio de 55,1 milhões de euros, dos
quais 50,5 milhões de euros foram aplicados no reforço do capital social
da Sata Air Açores” (companhia aérea regional).O
relatório refere que “as medidas de resposta à crise pandémica
implicaram o dispêndio de 77,7 milhões de euros”, mas “a contração de
determinadas despesas libertou espaço orçamental para acomodar uma verba
de 4,8 milhões de euros”, o que permitiu “atenuar, ainda que
ligeiramente”, o impacto da crise sanitária na execução orçamental de
2020.No entanto, segundo o Tribunal de Contas, a região já apresentava uma situação de desequilíbrio orçamental entre 2009 e 2019.“Embora
tendencialmente tenham evoluído no mesmo sentido, a despesa pública
regional excedeu recorrentemente a receita, razão pela qual nos últimos
11 anos que antecederam a pandemia de covid-19 nunca foi atingida uma
situação de equilíbrio ou de excedente orçamental, facto que contraria o
princípio da estabilidade orçamental, sendo ainda suscetível de
condicionar, a prazo, a sustentabilidade das finanças públicas regionais
e o respeito pelo princípio da equidade intergeracional”, avançou.Os
desequilíbrios orçamentais acentuaram-se, sobretudo, a partir de 2015,
sublinhou o TdC, que destacou que nesse ano rondavam os 58,6 milhões de
euros e, em 2019, atingiam os 82,9 milhões de euros, e “até poderiam ter
sido mais expressivos, não fosse o facto de as taxas de juro se
encontrarem em níveis historicamente baixos”.Esse
desequilíbrio levou, segundo o relatório, a que a dívida pública
regional tenha apresentado uma “trajetória de crescimento contínuo”, no
período que antecedeu a pandemia de covid-19, “embora se tenha expandido
a um ritmo mais acelerado entre 2015 e 2019, período em que se agravou
354,3 milhões de euros – em média, cerca de 88,6 milhões anuais –,
fixando-se em 1.850,1 milhões de euros no final de 2019”.O
Tribunal de Contas salienta que a receita registou, no período anterior
à pandemia, um “comportamento globalmente positivo”, impulsionada “pelo
forte agravamento da carga fiscal” e pela “evolução favorável que a
economia regional vinha a evidenciar desde 2015”.No
entanto, alega que a receita fiscal, que aumentou 249 milhões de euros,
entre 2009 e 2019, constitui, desde 2013, “a principal componente da
receita efetiva da administração pública regional (entre 50 a 58% da
verbas arrecadas)”, enquanto a receita não fiscal registou uma “queda de
198,1 milhões de euros”.Segundo o
Tribunal de Contas, a justificação prende-se com uma “redução das verbas
provenientes do Orçamento do Estado” de 110,1 milhões de euros, entre
2009 e 2014, e com uma “queda” nos montantes provenientes de fundos
europeus, de 48,7 milhões de euros, que é associado a uma regressão do
investimento público de “cerca de 50%”.“No
período subsequente, a receita não fiscal recuperou alguma dinâmica,
até 2016, exibindo desde então uma evolução irregular mas
tendencialmente decrescente”, acrescentou.Quanto
à despesa, o relatório destaca uma “trajetória de crescimento contínuo”
das despesas com pessoal e aquisição de bens e serviços, a partir de
2013, “totalizando 855,3 milhões de euros em 2019, importância
correspondente a 66,8% da despesa registada neste exercício, que
absorveu 71,4% da receita arrecadada no mesmo”.Já
o investimento público “tem vindo progressivamente a perder espaço
orçamental”, passando “de 122,2 milhões de euros, em 2009, para 75,8
milhões de euros, em 2019”.O Tribunal de
Contas (TdC) alertou o executivo açoriano para “a necessidade de
corrigir o desequilíbrio estrutural das finanças públicas regionais”,
alegando que as verbas comunitárias que serão transferidas para a região
ao abrigo do NextGenerationEU até 2026 (580 milhões de euros) podem
aliviar “transitoriamente” a pressão sobre as condições de
sustentabilidade da dívida pública regional, mas “terão um impacto
essencialmente conjuntural”.Em sede de
contraditório, a Secretaria Regional das Finanças, Planeamento e
Administração Pública, do executivo da coligação PSD/CDS/PPM, que tomou
posse em novembro de 2020, adiantou que “após a necessária recuperação
económica e social pós-pandemia de covid-19, que se prevê para 2023, a
prioridade do Governo Regional passará pela adoção de uma gestão
orçamental de contenção de despesas, de modo a criar espaço orçamental
que possibilite a redução do recurso ao endividamento e a apresentar
saldos primários positivos”.