"Distinguir esta vivência mantendo a integridade das tradições que são possíveis", diz Cláudia Meneses
26 de dez. de 2020, 12:49
— Tatiana Ourique / Açoriano Oriental
A alimentação na nossa vida é inquestionavelmente marcada pelo tempo. Seja pelas refeições preparadas pelos nossos avós durante a infância, pelas estações do ano, pelas festividades ou pela hora do dia, o tempo influencia a nossa alimentação.O decorrer do tempo em 2020, para além da mudança das estações, foi marcado sobretudo pela evolução da pandemia e associado a uma acumulação de restrições, recomendações e obrigações, em prol de um controlo que ainda não tem uma perspetiva segura e definitiva de quando irá acontecer. Sem que houvesse grandes dúvidas sobre esta hipótese, as mudanças de rotina de compras e de horários de trabalho, o stresse vivido associado a alterações do apetite e o receio com a situação económica influenciaram os hábitos alimentares de muitos portugueses (estudo REACT-COVID).Chegado o mês de dezembro, o sentimento e carisma distintos associados à época de Natal são desvanecidos pelo receio da propagação do vírus e pela incerteza no futuro e, como quase tudo neste ano, o Natal também será vivido de forma diferente e mais penosa para muitos de nós. Impondo-se a necessidade de limite de contactos e afetos, este Natal torna-se incompatível com as nossas memórias e resta-nos distinguir esta vivência mantendo a integridade das tradições que são possíveis, como o que preenche a nossa mesa e alimenta a nossa alma.A alimentação no natal adquire um significado especial no seio de cada família, em que muitas vezes são preparadas receitas exclusivas desta época. Independentemente das variantes das receitas em cada mesa e do contexto atual, as refeições destes dias sabem a muito mais para além do sabor e são para aproveitar com todo o prazer e sem restrições. É o sentido estrito da expressão “um dia não são dias”, e aplica-se exclusivamente nos dias 24, 25, 31 de dezembro e 1 de janeiro.Contudo, é fundamental equilibrar com as restantes refeições nesta época, sem lugar para extremismos ou obsessões. Tal significa que menosprezar o contributo destas refeições na acumulação calórica não é a solução correta, assim como adotar dietas com restrições desmedidas.Sobre as questões relacionadas com o peso ou “dietas” no natal, é importante que sejam interpretadas de forma realista e verdadeiramente holística em relação ao que corresponde às nossas necessidades, sempre com a perspetiva de que se trata de um processo continuo.Neste propósito de equilíbrio entre as vivências do natal, os efeitos da pandemia e alimentação, seguem-se alguns conselhos:- Compre os ingredientes para a consoada no comércio local. Opte por produtos frescos e de origem local/regional, como as couves, as batatas, o polvo, os ovos, etc. que além de serem mais nutritivos e saborosos, também contribui para a economia local.- Disponha sobre a mesa uma taça de tangerinas regionais (as “mexeriqueiras”). Este fruto enquanto opção para alternar com as restantes sobremesas, irá contribuir para aumentar a saciedade, mas também fará sucesso pelo seu aroma tão característico no natal dos Açores.- Selecione e prepare apenas as receitas que maior significado acrescentam ao seu Natal. Evite todas aquelas receitas pouco características que faz noutras ocasiões do ano.- Não modifique as receitas que caracterizam esta época com o objetivo de as tornar mais light. Respeite as tradições, as memórias e os sabores de Natal.- Compre os ingredientes e prepare a quantidade adequada para o número de pessoas que estarão à mesa naquele dia e apenas para os dias celebrados (24 e 25, 31 e 1). Lembre-se que com tanta variedade, os convivas irão servir-se de porções menores. Caso sobrem alimentos, congele para utilizar noutra altura ou distribua entre os restantes familiares, de forma a evitar que se repitam e fiquem à disposição durante toda a época festiva.- Tenha sempre a água, infusão ou chá enquanto opção de bebida. Mesmo que não seja a bebida de eleição para acompanhar a refeição, são uma ótima alternativa para intercalar entre sobremesas e confortar durante aqueles dias.- Disponha sobre a mesa uma taça de nozes com casa. Estes frutos são uma excelente opção de snack ao longo da noite de consoada, e vão entretê-lo/a a descascar, desacelerando o seu consumo quando comparado às nozes já descascadas.- Retome a rotina das refeições equilibradas entre o dia 26 e 31 de dezembro e a partir do dia 2 de janeiro. Sem prejuízo do prazer de comer, os dias que se seguem ao natal e ano novo devem cortar com os excessos e regularizar a ingestão dos alimentos que ficaram mais “esquecidos” nos dias principais. Facilite o período pós-festa e tenha disponíveis os ingredientes necessários para que no dia seguinte possa preparar uma sopa de legumes e uma refeição equilibrada de confeção simples.- Aproveite os dias de descanso que se seguem ao natal e ano novo para fazer algum exercício físico. Lembre-se que qualquer forma de exercício será sempre melhor do que ficar sentado no sofá.Lembre-se, o Natal e ano novo são apenas 4 dias no ano. Em condições tão atípicas, permita-se a vivê-los da melhor forma possível, a aceitar o conforto das refeições e a ser flexível consigo próprio/a, com consciência e com bom-senso.